25 de janeiro de 2009


Não deixes morrer a bailarina, ouvia-se da rua. Talvez a ironia, mas ninguém lhe era indiferente.
Dentro de casa, à semelhança do que se passava em tantas outras, a azáfama. Daquelas que alimentaria a memória por muitos anos, com pormenores de roupas a cheirar a naftalina, e sapatos a brilhar de lustro. Uma dessas coisas em família que havia sido planeada com sobeja antecedência. Semanas antes, o Pai já havia conversado sobre este acontecimento durante o jantar. As conversas repetiram-se durantes muitas outras refeições. Trocaram-se sorrisos cúmplices entre os mais velhos, mas para Fernando, o pequeno, ainda era um mistério. Às vezes, adormecia a pensar na beleza daquela bailarina, usando a imagem de um qualquer livro infantil de cuja memória retinha uma figura feminina vestida de cor de rosa e com uma varinha de condão.

Chegado o dia, todos haviam esquecido os dias que tiveram de esperar desde que foi anunciada a presença da bailarina na cidade. Chegara o momento de se preparem. Havia que ser pontual. Podia estar uma fila enorme. Não te lembras como foi da outra vez? Não, jantamos em casa. Poucos podiam jantar num restaurante daqueles.
Finalmente, sairam, estranhando a beleza aprumada de cada um e conheceram, então, a bailarina.
Não deixem morrer a bailarina! - ouviu-se uma vez mais.

(Rafal Milach)

Nenhum comentário: