20 de março de 2016

Aquelas eram as mulheres
das esperas desesperadas,
das noites mal dormidas
no conforto do sofrimento.

Aquelas eram as mulheres
satisfeitas na sua insatisfação,
superiores na sua abnegação,
valiosas quando esquecidas.

Soltavam lágrimas e gemidos,
como outros, risos e sorrisos.
Sabiam-se incompreendidas
só a elas lhe doíam as feridas.

Cantavam poemas de dores,
lamentos de falsos amores
de traições e ingratidões,
de vidas mal fadadas,
alheias, mas tão suas.

Mãos acorrentadas a terços
de lágrimas e tormentos,
de socorros e milagres,
de pecados e arrependimentos,
viviam ajoelhadas e vergadas
ante do exemplar sofrimento.

Faziam contas e mealheiros,
sabiam que eram as últimas
e quem eram os primeiros.

Quando o final se acercava,
partiam sós e incompreendidas
como os terços e as novenas,
como os choros e os lamentos,
como as moedas nunca trocadas.




14 de março de 2016

Que fique tudo no silêncio,
nas horas perdidas,
nas páginas rasgadas,
nas palavras esquecidas.

Que fique tudo por dizer,
o feito e o desfeito,
o encontro e o desencontro,
o viver e o morrer.