30 de maio de 2009

Era a noite mais fria de um Verão intenso. Sim, o Verão também tem noites frias, e há mesmo dias em que o sol não aquece. Assim, era unânime, aquela era a noite mais fria desse Verão. Mas não para todos. Tal como no Inverno, há quem sinta o frio de modo diferente, arriscando-se mesmo a dizer que o frio é psicológico. Seja lá como for, Simão sinta o frio como imaginava que os velhos de ossos frágeis o sentissem. Sentia o frio do modo que achava tão seu, porque não era velho e nem tinha ossos frágeis, houvesse um aparelho que afirmasse isso mesmo e ele veria com um sorriso a sua tristeza reconhecida num modo especial e único para sentir o frio. 

Não havia nenhum aparelho e, se usasse um motor de busca como o Google, logo perceberia que muitos se queixavam do mesmo. Irritado, pela falta de originalidade, abafava-se num cobertor de lã, que lhe confirmava a sua própria necessidade, até que Rita chegou. Com um cobertor de lã numa noite tão quente?! Já sei. Mal de amores, não? E o abraço que afastou aquele cobertor

27 de maio de 2009


A noite cansara-se daquele choro e os casais riam-se das rugas fáceis de quem se rezinga com a vida, e o relógio? O relógio, esse, olhava todos com a indiferença de quem se acostumou a ver passar o tempo, ver nascer, crescer e morrer vontades que se juraram eternas. O choro não lhe perturbava o seu ritmo, e era com o mesmo desprezo que ouvia os risos e via as rugas dos contrariados. 
Nada, ainda assim, conseguia tingir aqueles gestos de inutilidade. Saiam com a força de quem sabe que nasce por uma razão, e não recuavam ante a racionalidade dos que os rodeavam. 

(James Ensor)