30 de setembro de 2007


Tenho uma lágrima no canto de olho que insiste em não cair e tu aí tão perto.

Se uma lágrima cair, transparente e isolada, consegui-la-ão ver o teus olhos?

E se os olhos olham, a alma sente?

E se alma queima, o corpo vence a inércia?


Quero fechar os olhos e esquecer-me


Os olhos trouxeram o escuro. O escuro trouxe a dança do tempo, que a despertou. Ana vê os olhos de sempre à espera dos teus.


hf
(ft: Sem título, Chema Madoz)

16 de setembro de 2007


ainda sei o que vestiste ontem porque o prendi no pensamento com uma fita cor de rosa que te ficaria tão bem.
rosa projectar-se- ia no azul dos teus olhos e olharias os meus, banais e sem encanto
o encanto partir-se-ia com a jarra de vidro onde coloquei rosas

rosas. mais uma vez rosas, penso nas rosas

rosa, cravo, já foi, penso em ontem

ontem, estavas cá e o meu coração prendeu-se ao teu

o teu amor não é maior do que o meu: é na medida certa

língua solta, que sabes tu sobre a medida do amor, quero que caias já

e a língua caiu por que o desejo faz-se ordem no teu pensamento


brinco hoje para ocupar o espaço vazio


hf

(fátima mendonça
sem título)

12 de setembro de 2007


Talvez Paula se tenha perdido, ou, sei lá, se tenha mesmo esquecido. Vislumbra-se à saída de um metro e logo se recorda que perdeu a graça do seu olhar. Desconfia que tenha sido num daqueles saltos de quinze centímetros, cónicos, claro, porque só a esses a moda ilumina. Talvez nas calças justas da estação, ou até atrás de uma carteira XL... Enfim, não sabe como, mas sente que se perdeu.

Noutro dia, deu consigo a remoer a ideia de que foi numa noite de Abril, em que adormeceu a chamar por quem lhe limpasse a lágrima.
E se os dias se multiplicam, o calendário lá a surpreende a abraçar uma nova razão.
Sente o eco da própria voz no paradoxal vazio do seu corpo, a automaticidade dos seus movimentos e continua a caminhar.
Quero que o teu beijo me cale a alma!

hf


(joana salvador, sem título)