7 de novembro de 2006

Patético...

(o espantalho, paula rego, 2006)
Ontem, encontrei-te perdido. As voltas, o mundo tem voltas e julguei-as tão lineares quando te apercebi de novo preso entre olhares.
Como pudeste?! Merece bem a indignação. Ainda te custa ver a falha do sorriso, disseste. Admitiria ver esse comentário a um dos meus patetas, mas a ti. Ia dizer para apoio metafórico que me cortou o coração, mas o único corte foi o de eventual fissura de comissura labial ou de umas quantas fibras musculares abdominais, que, por fadiga, se quebraram durante o meu riso. Quis mesmo amparar umas lágrimas, como fazem os que muito se riem, ensaiei o gesto, mas em vão. Há coisas que não consigo fazer, uma delas é desperdiçar liquido lacrimal.
Meu anjo, se alguma coisa te ensinei é a ver o mundo com apenas dois lados: um de cor e outro de não cor, nada mais. Escolhe. Com o resto, sem cor, sabes o que deves fazer.
Podia repetir-te tantas outras palavras, mas não o faço, até porque apenas se repetem as palavras quando são novas ou (nos) tentamos convecer.
Já disse demais.
hf

14 de setembro de 2006

Crescer capitalista, num poema pobre e pretencioso

Insiste em brotar, mas sabe que morre.
Não pensa nisso, dói-lhe.
Produz e compra, vive assim.
Sabe que não se merece, mas
Puta que pariu se isso interessa.

Ninguém merece!

Ganha e gasta
e Ganha e gasta
e Ganha e gasta...

e Sabe que quando morrer, o caixão será de carvalho,
Forrado a veludo e cetim
Com o melhor fato vestido...
e, Estranhamente, pensa-se feliz assim.

Sérgio Figueiredo

7 de setembro de 2006

Vícios do Coração



Ouvi dizer que hoje era o dia. Vesti-me em pura obediência ao espelho. Ditou-me que vestisse o que só uso por vezes, mas que até eu sei que me cai bem. Saí à rua com o pé direito, que molhei imediatamente por estar a chover. João, empresta-me o guarda-chuva! Molhei-me todo o caminho, João já não está. Ainda o chamo. São hábitos que se criam e insistem em ficar. Desconfio que é um vício do coração. Às vezes, conto-lhe deste meu hábito. O telefone não transparece a cara, mas sei que não gosta. Ainda assim, viciada que sou, conto-lhe e logo lhe peço desculpa por o fazer, o que o irrita mais. Mudemos de assunto e tu estás bem? Desde que saiu de casa, nada mais falamos do que trivialidades. Não sei se algum dia, os assuntos foram outros, mas os de hoje, sinto-os vazios. Assim, como a casa, o quarto, os brinquedos, os livros, tudo que ele deixou e já nem o sabe procurar.


Patética, sim, sou. Nunca pensei usar das habilidades mentais que reconheço a quem chamava de velhos. Agora, sou eu a velha, que deixei de viver e agarrei-me a um filho, que já não é meu.

Sim, eu sei tudo, mas o coração tem vícios.

hf

(Visitação, Graça Morais)

Nasceu

Nunca lhe agradeci o texto. Guardei-o e deixei-o como uma novidade para a edição 8, mas a demora, que me envergonha, faz com que parece injusto não o publicar. Sérgio Figueiredo: a primeira participação neste porumoutrolado.

Nasceu, conheceu a mãe e afeiçoou-se a ela. Foi conhecendo o pai, e afeiçoou-se gradualmente, bem como aos irmãos.
Cresceu...
Começou a reparar nas outras pessoas, e afeiçoou-se a elas. Fez amigos dessas pessoas e foi ganhando a afeição deles. Entrou na escola e afeiçoou-se pelo conhecimento. Fez desporto e afeiçoou-se pelo corpo.
Cresceu...Comprou coisas, às quais se afeiçoou, e sentiu-se nelas.
Cresceu...Teve amores pelos quais se afeiçoou e desprendeu, afeiçoando-se à liberdade de não estar preso a ninguém...
Cresceu...
Saiu de casa e entrou na faculdade, e afeiçoou-se à liberdade e responsabilidade.
Cresceu.....
....
foi-lhe tirado o gozo da vida....
....
suicidou-se...
Morreu...
(a dor não faz crescer)

Sérgio Figueiredo
(ok, o texto é algo drástico - se ignonarmos quão pobre é a escrita e eventuais erros ortográficos ou gramaticais - acaba por ser bastante honesto, embora não represente o eu que sou - só para não existirem alarmismos)

28 de julho de 2006

Conversas de Jardim

Dizem. Dizem que estou doido, que oiço vozes que não existem. Raios, se as ouço se elas me falam se me compreendem se me dão conselhos se me ouvem, serão falsas? Não estarão os outros doidos?Ontem saí. Fui ao parque. Sentei-me, perdi-me. Não sei o que foi, se aquela folha simples, seca, quente, a dançar com o vento, se aquela calma, aquele silêncio, aquela deixa que me conduziu novamente a este questionamento interior.
Sei que estou doido, mas com a minha demência consigo ver que todos à minha volta não estarão assim tão sãos como a sociedade os cataloga:
- o médico que me vê de relance todos os dias, sim o mudo, nunca lhe vi um olhar feliz, só aquele olhar ferido, cavo e seco;
- a enfermeira que me trata, sim a cega, fala de forma cadente todo um discurso à muito decorado e que hoje é estandardizado para todos aqueles que pela frente lhe surgem. Muito provavelmente quando vai deitar os filhos repete: passas-te um bom dia? aleijaste-te? falas-te muito?
- a senhora da comida, sim a surda, nunca compreende aquilo que lhe é dito, de tão ocupada que tem a cabeça de vento…
No entanto, perante todos eles sou eu que estou doido. Como disse? Concordo, acho que tem toda a razão, claro mas todos eles estão mais ou tão doentes como eu, é tudo uma questão de curvas.
Hum… pois… talvez… Sabe, estive a ler e sem querer percebi, é tudo uma questão de perspectiva, de presentes e de futuros.
Não é disso que falo. Repare no meu caso, do passado, não sei, para mim não existe, de nada me serve. Presente não tenho, é sempre igual, e se é igual não é mais que um pretérito continuamente a repetir-se. E futuro, desconheço mas surge como um pretérito mais-que-continuamente a repetir-se. Não sei se é assim com todos os que estão aqui, comigo é, e com grande parte daqueles que se dizem sãos também é, pelo menos comportam-se como se fosse. É como um caleidoscópio, mistura-se e dá sempre uma imagem diferente, mas a base é sempre a mesma…
Mas sabe, e isto para terminar por hoje a conversa, porque se faz tarde, e isto de me perder no parque pode dar para o torto, ainda vem uma cega procurar-me, a mando de um mudo, cujo recado foi dado primeiro à surda.
Sabe, e se não o sabe fica a saber, eu pelo menos sei do que sofro. Sim sei, talvez não esteja assim tão mal. O que eu sofro é de conversas intermináveis com o senhor Folha e o senhor Silêncio, enquanto eles vivem na ilusão, ou melhor no limbo de um diagnóstico ainda não pesquisado.

Luís Fernando

29 de maio de 2006

diz que tem medo

Diz que tem medo e nem sei por quê. Acho que é daquelas coisas: uns têm muito, outros, nenhum.

Medo!

Quando o ouvi pela primeira vez, ainda lhe dei alguma razão. Enfim, pensei, é um pateta! Mas até os patetas merecem sentir o conforto de um 'tens razão'.

Mais tarde, ou até nessa tal primeira vez, acrescentei alguma coisa sobre a irracionalidade daquele receio. Ego por ego, que não fique também o meu ferido: se penso, digo, de um modo ou de outro.

Hoje, aparece com a mesma conversa. Tem medo. Tem medo e porque tem medo. E quando não o diz, deve ser porque aqueles olhos enfezados o antecipam e substituem na voz.

Não tenho paciência para pessoas assim. Medo? Onde já se viu? Pronto... deixe-mo-lo! Apaga a luz, porque quero dormir. Há cada um. Só a mim...


hf

15 de março de 2006

Carta aberta a um jovem, enquanto puto

Caríssimo:

Constou-me há pouco que Vossa Excelência não tem ideais... Que anda ocupado com afazeres mundanos, que, desde tenra idade, o ocupam sobremodo. Deixou de os ter quando, numa esquina mal frequentada, se perdeu de amores por uma adolescência tardia, que o inundou até tarde na década dos vinte... Tenho pena...

A vida corre-lhe de feição, sem ralações, ocupado que está a gozar as conquistas de outros. Nada o preocupa, não pensa no mundo, gravita sem anseios... "Sociedade" é palavra desconhecida, derivada talvez do "social", que anda a par das festas bem frequentadas. "Pobreza" vem de "pobre", que são os habitantes de um país de terceiro mundo (cujo nome te esforças por recordar), longuínquo demais para abafar o cheiro do perfume da moda... "Reflexão" vem do "reflectir", fenómeno indispensável no mirar do espelho, religioso ritual saturnino...

Tenho pena que o menino jovem só cresça quando convém, que resolva militantemente que os ideais são bafientos e decrépitos, que não ouça quando a Democracia Representativa chame... Tenho pena que fique em casa em dias de eleições.

As quimeras de outros carregam nos ombros o mundo de hoje. O teu mundo, menino jovem, está cheio de interrogações não pensadas. Os ideais são plena aspiração do espírito... O que dizer de ti? O tua sociedade (vá lá, procura que hás-de encontrar significado) vai oca... vazia que está de perfeição idealizada, preocupado que andas com aspirar por nada...

Cordialmente

S.Maria

14 de março de 2006

Momentos








Cai a noite devagarinho.
Joana chora e o pai sozinho.

O que vêm os olhos da minha vida?
Por onde caminha o que perdi?







O globo que nos separa tornou-te pesado no meu coração. Ainda desenho as rotinas dos teus penares, mas já não as sinto. Adivinho o teu pensamento e quero esquecer que pensas em mim.
Parti e vejo-me morrer.






Ou talvez não… Talvez conheças páginas de um livro que nunca li e já saibas tudo. Saibas que não há perder, mas sim deixar o sol seguir-se à lua. Talvez conheças como se calam as lágrimas da saudade. Oh! Tomara!


Quebrou-se. Não voltará.

Percebi bem quando o metro deixou te deixou de alcançar.






helder filipe

Brisa

Brisa

No ar sente-se um cheiro constante. Deixa-nos envolvidos sem nos prender. Ouve-se um embalar lento, ritmado, constante. O céu azul ponteado por pequenos farrapos de nuvens... E continua -se a ouvir o ritmo agora associado a uma brisa perene, omnipresente que nos afaga como uma mãe embala o filho. Ali no cimo da praia está um homem como tantos outros. Só, acompanhado, perdido achando-se...
Escreve lentamente, ao ritmo que o mar dá na sua cadência, afagado ainda pelo roar lento quase inaudível da omnipresença.
Levanta o seu olhar. No céu estão várias gaivotas rodopiando sobre si, nos seu contínuo afazer ditado pela sua natureza. Ao longe um casal namora, talvez influenciado pela perenidade que a brisa conduz ele agora revela a realidade do seu amor, e o homem que escreve volta novamente a sua atenção às suas folhas e ao seu lápis. A alguns metros dali, num carro está só, outro homem. Tem o olhar fechado, nos olhos verdes a profundidade mariana e pacífica de uma vida sofrida. A escrita prossegue... O papagaio caiu, a criança que praticava as façanhas drumondianas grita de desconsolo, o seu pai com toda a perenedidade e o ritmo que a idade lhe confere, volta a pôr no ar a frágil aeronave e acalma o filho... No papel ganha forma algo:

Um fim
que se procura,
um desejo
que se alimenta
num ser
que ainda não é

Um caminho
que se alarga
um peregrinar
que não se esgota
num descobrir
que cada dia tens uma nova face

O homem escreve. No papel azul estão apenas algumas palavras, que na sua simplicidade mudarão o rumo de uma vida. No ar propagado pelas ondas de ar feito as estações climáticas vivaldianas escorrem a chuva invernal.
Outro homem leu as palavras escritas. Nele o resultado foi imediato, como as primeiras enxurradas de Inverno, o seu mundo acabou com o diagnóstico ali sentenciado... Tudo aquilo que gostava de fazer acabará. Amavelmente pediu para fechar a janela devido à brisa.

O homem está agora num restaurante. O ruído desorganizado, de várias dezenas de clientes a discursarem sobre tudo, envolve-o: as aulas correm bem, ontem tive uma reunião com o chefe, amo-te, a 'vó 'tá pior, 'tou sim o papel que tens que trazer é o azul, para mim pode ser frango estufado, podia-me trazer a conta faz favor. Mas a sua atenção está apenas focada naquela mulher que está à sua frente, tal como ela noutros tempos tinha estado em reciprocidade na praia. Agora ela diz-lhe que é o fim, as coisas já não são iguais, a novidade terminou. Tudo é mais simples se acabassem... O mundo desaba novamente como o caminhar já não fizesse sentido...

Escrevo rápido nervosamente já por várias vezes alterei o que primeiro tinha escrito risco uma e outra vez. Paro releio reescrevo tiro as meias palavras ponho outras preparo o instrumento que me levará ao mais baixo patamar dantesco ligo o aparelho de música. É tudo frenético impensado inimaginado desligado da realidade que até aqui vivi. Ponho a rodar a sétima sinfonia escrita pelo bonense. A música arranca. Chega ao segundo andamento. A cadência começa lentamente, lentamente, piano depois cresce lentamente, torna-se mais forte, toda a orquestra se vê envolvida depois da estafeta entre cordas e sopros, todo o ambiente está imersa, a sua cabeça ausenta-se momentaneamente subiu patamares, quando regressa ao seu mundo o tema inicial já saiu e já voltou com nova face. A sua também está diferente, os olhos estão marianamente pacíficos. As coisas passam-se mais rápido sacadicamente move a sua mão acerta pega no revólver encosta-o à sua fronte encolhe o indicador direito o segundo andamento terminou o corpo caiu sobre o papel nervosamente escrito cujo peso era suportado por um outro, azul. O terceiro andamento começa. Ali, já só o ramo de gardénias brancas se move ainda impulsionada pela brisa perene e omnipresente que recebe nos seus braços a nova realidade.

Foi um fim.
Um fim de dia. Ali no quarto, desfolha o jornal, as notícias quase sempre trágicas que alimentam esse estômago cerebral sedento das desgraças alheias, a novela dos amores e desamores que como começam acabam, as novas descobertas científicas que remudam as mudanças de destino que o anterior desconhecimento impunha, o concurso de fotos ganho por uma estranha imagem de uma praia semideserta com um casal, um pai e seu filho, um velho sentado e um carro próximo dele.
Parou para pensar, em como a vida muda tão rápido, como o interior pode ser alterado num constante crescer assente no passado olhando o futuro, parou a brisa fez entrar pela janela uma folha azul gasta pelo tempo. Levantou-se, pegou nela e leu:

Um fim
desejado
Alimentado em si
no seu ser.

Num caminho
complexo,
feito em parceria,
com um vento perene e omnipresente.


Luís Fernando

CARTA

Valparaíso, 30 de Março de 2006-02-05


Pai,

Como já deves ter percebido escrevo de Valparaíso. É verdade, já cheguei ao Chile!! A última vez que escrevi estava em Fortaleza, desde então muito aconteceu…
Para cá chegar, viajei por terra e por mar, aproveitei boleias de camionistas, apanhei longas carreiras de autocarros e andei um pouquito a pé (para aí uns 500 km). Mas está a valer a pena. O Mundo é um poço de aventuras, um livro de conhecimentos, um filme de culturas diferentes, tudo reunido num grande teatro, que é esta vida em que nos encontramos.
A verdade, é que para poupar algum dinheiro aproveitei para atravessar o Brasil à custa de boleias, ou a pé. Com isso, poupei uma “pipa de massa” ao mesmo tempo, que pude viajar com maior segurança porque a inconstância dos banhos, e a facilidade com que se adquire o sotaque brasileiro permitiu-me passar diversas vezes apenas por mais um sem terra a caminho da grande cidade… Por outro lado, esse mesmo aspecto dificultou-me sempre a vida quando cheguei às cidades e tinha de procurar um lugar mais limpinho para pernoitar. Nada que não se resolvesse com recurso com uns reiais à vista… Assim, conheci Manaus, parte da Amazónia, o Amazonas (de facto uma das paragens foi no meio de um acampamento índio), Brasília, São Paulo, Rio, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, até chegar à Argentina.
Aqui a falta de dinheiro aguçou o espírito e arranjei uns trabalhitos. Em Buenos Aires, trabalhei na ópera a vender bilhetes e a encaminhar os melómanos para os seus respectivos lugares ao mesmo tempo a que assisti a várias representações desde a Flauta do Mozart, ao Holandês do Wagner ou o Barbeiro do Rossini. Pelo meio aproveitava os dias para limpar as latrinas de um clube de tango onde diz o dono à boca cheia (o que eu duvido seriamente) o Piazzolla começou a carreira.
Após angariar alguns trocos, visitei o outro lado do Rio da Prata: Montevideu.
Aí parei um pouco. Seguindo o teu conselho de viver cada dia como se fosse o último e cada segundo como se fosse o primeiro, perdi-me. Acho que por momentos pensei ter encontrado o meu grande amor. Infelizmente foi apenas mais uma paixão (que enquanto durou foi realmente bom) e depois de um mês sentindo-me como tudo aquilo que limpei no clube de Buenos Aires, deixei o Uruguai. As mulheres sul americanas, têm aquilo que não dá para descrever, é a maneira como falam, andam, sorriem, olham, eu sei lá...
Tudo é diferente neste mundo, a miséria é enorme e ao lado de uma favela cresce um condomínio fechado com segurança à porta. Mas, mesmo com toda esta pobreza é impossível não reparar a alegria com que se empenham no dia-a-dia, e a forma alegre como olham para o muito que já possuem.
Segui depois em autocarro pelas Pampas, atravessei os Andes. Aproveitei para fazer algum turismo de montanha e subi até meio do Aconcágua, ou melhor até onde o mal da montanha deixou…
Depois dessa aventura cheguei a Valparaíso e agora é tempo de gozar a praia no oceano Pacífico e começar a adaptar-me às águas deste oceano.
Este é o momento para agradecer à mãe tudo o que me ensinou em relação a estar na cozinha e a tirar o melhor partido dela. Graças a isso, arranjei um trabalho como ajudante de cozinha num cargueiro que vai partir amanhã. Finalmente vou quase chegar ao Pólo Sul (primeira paragem em Tierra del Fuego), acho que vai dar para sentir o frio… Depois seguiremos em direcção a Wellington na Nova Zelândia onde deixarei o navio. Pelo meio paragens nas Galápagos, ilha da Páscoa e Tahiti. Belo cruzeiro…
Antes de terminar quero dizer que as saudades cercam-me todos os dias. A solidão é sempre uma constante embora envolvido por tanta gente e com tantos contactos já estabelecidos (já comprei outra agenda para guardar as moradas, telefones e os mails de tantos conhecidos). Procuro sempre não me esquecer de todos os teus conselhos, mas isso por vezes não chega. Olho sempre para traz como que a ver um filme de viagem, não esta mas toda aquela que fiz pela vida, e lá encontro o alimento e o conhecimento necessário para enfrentar os obstáculos que tenho pela frente. É como se tudo fosse um fio condutor que por vezes, se cruza fazendo um nó que não temos que romper mas antes apertar mais, e que permite a chegada de um outro fio para a ligação ser mais longa e segura ou simplesmente abre a hipótese de novos caminhos serem estabelecidos.
Bem deixemo-nos de filosofias (é o que faz estar só), mando beijinhos para todos aí em casa, mais que tudo quero que saibam que está tudo bem pese embora os breves assaltos de solidão. Junto envio algumas das muitas fotos que tenho tirado, embora não seja possível ver já tornei a fazer a barba, por isso não se assustem e acreditem sou mesmo eu…
Antes de terminar queria dar os parabéns à Ana pelo aniversário (não me esqueci, mas no meio da Amazónia não há telefones, e depois não fazia sentido com tanta coisa para dizer e tão pouco tempo); agradecer a encomenda que a mãe mandou para o Rio (ainda estava muito saborosa) e avisar que espero estar na Nova Zelândia daqui a três meses (mais semana, menos semana) e ficarei por lá um mesito, portanto: mãe não te coíbas de mandar outro.
Bem, agora é de vez, um grande abraço e um beijo cheio de contradição por querer estar aí, mas estar tão bem por aqui estar.


João





Luís Fernando

25 de janeiro de 2006

E se...


Agora vai anoitecer.

A noite segue-se ao dia.

Durante o primeiro período, devemos dormir. Desse modo, recuperarermos força para o trabalho. É isso que devemos fazer durante o dia.

Há pessoas que não trabalham, ou porque são muito novos, devendo, por isso estar no período de formação, ou porque já são velhos, tendo já trabalhado. Mas, regra geral, todos trabalham.

A maior parte dos que trabalham fá-lo exactamente durante o dia, embora haja profissões em que se trabalha durante a noite.

O trabalho fortalece o Homem.


E se o pano cair e nos perdermos.

E se refutar tudo o que disses num qualquer trajecto alternativo.

Afastar-me-ei ou ficarei mais próximo?

E o peso de ter traído, suportá-lo-ei?


E se cair e repetidamente protestar um grande NÃO até ao fundo, onde o eco já não se reproduzir e me afastar excruciante do quadro e do giz?

E se ficar inexorávelmente na excruciante dúvida até sentir o desespero do vão? Ou não o sentirei?

E se o meu traço se prender ao desenhado?


E se...


A noite chegou, devo-me preparar para dormir...

17 de janeiro de 2006

Ti, ti, ti. Gosto mais de ti!


Vá lá não me deixes para último. Pronto, não sei jogar bem à bola, mas, para último... Fico sempre eu e o outro. Mas o Manel é um caixa de óculos, é natural que ninguém o queira. Até para bem dele. Se uma bola apanha aqueles óculos desprevenidos... A mãe não vai gostar. É coisa para custar caro. Mesmo assim, não gostava de ter uns óculos.

Uma vez a Professora disse-me que eu via mal e devia ir ao oftalmologista. Calei-me. A minha mãe não era tão atenta para perceber que a distancia do televisor se aproximava à medida que se afastava aquele dia.
A Ana era minha amiga e deixou-me sempre copiar a lição por ela. Como tinha a letra bonita... Nunca gostei da palavra caligrafia, associo-a a um tempo de Senhor Farmacêutico, Senhor Prior ou, pior, Senhor Professor Oliveira Salazar. A Ana usava muitas cores. Também não gosto de cores. Mas ela era bonita, ainda assim.

Ao perto tudo é mais fácil porque se dissipam os erros e vemos melhor.

Hoje vejo-te melhor, mas ainda me importo quando me deixas para último.



hf
17. Jan.2005
Biblioteca do HGSA

7 de janeiro de 2006

Notas de um Presidente de Administração

Pouco disse à amálgama de gente que se contorcia de nervosismo à sua frente.
inexperientes.
perdidos.
temerosos.

"Duas ideias a transmitir: case mix e que estamos perante um hospital que tem 503 computadores (ou terminais de computadores, como eloquentemente distinguia) e 304 camas."

Podia ser este o garatujo defronte de tão bem falante doutor. Uma questão pertinente: o que é o case mix? Nem ele saberá, embora todo o seu léxico desaguasse amiúde no case mix. Talvez tenhamos que mudar o nosso palavreado...
Quanto às camas e computadores.... não sei mesmo... acho só curioso... Sinais dos tempos que correm; onde os computadores são mais referenciados do que a capacidade hospitalar... doentes ou doenças... ou mesmo as inquietudes nas vidas de quem dormita em camas hospitalares. Provavelmente tal facto melhora o case mix... Quem sabe?

bom ano .... ;) s.chacim

2 de janeiro de 2006

E quero que tudo corra muito bem!


E que tudo corra muito bem! Ela disse-o bem sentido. Ele sentiu-o bem perto. Há muito que esperava o tudo que agora lhe parecia bem pouco.
As palavras fizeram-se eco nas paredes ainda pouco alicerçadas. João batia-se no silêncio e arduamente tentava avaliar um passado pronto a arrefecer. Era a frase perfeita, que ele próprio diria sem margem para qualquer crítica. E o passado? Longe de perfeito, sabia-o sempre assim, mas começara a perder-lhe o rasto.
O vento levou-lhe os pensamentos e adiou-os: Amanhã, pensará nisso!
hf
2 de Janeiro 2006
Um excelente ano!