31 de julho de 2008


Recebeu um forte aperto que lhe disse é tudo um sonho.

De facto, era um sonho: um sonho esse aperto e essa sensação.

Por fracções de segundo, Ana sentiu a alegria infantil de fazer tudo nulo, mas depois veio o acordar e o perceber que havia um sol que lhe mostrava as cores do vazio.
hf
(paula rego)

16 de julho de 2008


Sonharam e permaneceram com olhos ainda fechados, tentando saborear o que a noite trouxera: uma menina de vestido azul, num jardim de amores perfeitos, uma cor que ultrapassava o preto e branco, um sei lá de coisas que se iam apagando, indiferentes ao esforço daquele par.
A luz daquele dia, entediada pela sua inutilidade, fez uso das suas artes mágicas e Pedro e Ana lá abriram os olhos, mas riram-se tanto e tão alto de um sonho lindo em que foram cúmplices, que a luz evanesceu frustrada.

5 de julho de 2008

carrinho de duas rodas




Era um carrinho de duas rodas, se mais rodas havia, não as vi.


Estranho... Um carro não tem duas rodas, ainda se fosse uma bicicleta... Não era um carro. Não podia ser!


Eu vi um carrinho e vi que tinha duas rodas, se mais rodas havia não as vi.


Não era um carro, não podia ser um carro. Se viste um carro, tinha de ter quatro rodas. Por que insistes num erro?


Insisto porque vi: vi um carrinho e vi que tinha duas rodas, se mais rodas havia não as vi.


O sol contou à lua essa discussão sobre um carrinho de duas rodas. O dia fechou-se e quando se abriu de novo, ainda se ouviu a lua a contar ao sol tudo o que ouvira. Juntos, reconstruiram a história de um carrinho com duas rodas e riram-se à volta de um mundo de orelhas moucas.