24 de junho de 2007

poemas ébrios V

o cubo olhava-se, perplexo
pelo seu aspecto tosco
de granito cinzentão...
achou-se sem graça nem nexo
no mundo... achou-se fosco
e deixou morrer a razão...
resta-lhe a sensação!
autómato com o reflexo
de perseguir própria extinção...

deixa-se então pelo chão...

s.f.

17 de junho de 2007

poemas ébrios IV

"blues de várias vidas que não fui
num excesso de âmago demente,
e duma fúria de não ser outra gente,
sem o cinzento do sangue que me flui
da vontade de ser diferente.

e o coração teima e não anui,
embora pareça condescendente
com a lógica dada pela mente.
cansa-se, e no sentinte que possui
deixa-se doído, decadente.

s.f.

16 de junho de 2007

psudofilosofias agressivas da "treta"

Perturbe-se a infinita procura do certo! Perturbe-se constantemente, pois o certo está empedernido de falácias que o alimentam! A derrota nunca ensinou! Limitou-se a colocar desejos retaliativos sobre si própria, porque a derrota nunca está certa! A derrota é, no entanto, perpétua, de modo que o enaltecimento colocado na felicidade nunca deixa de ser um desejo maior...
Coloque-se uma praga na procura do certo! Deixai prevalecer a derrota! Que tudo desista, e depois morra... e certo tudo se tornará doravante...

s.f.

7 de junho de 2007

Maria,



Ainda se lembra, Maria? Faça o esforço e veja-me menina e moça, como a que saiu da casa de seus pais. Recorde-me num vestido azul de cetim do mais caro da venda. Não!, nunca usaria chita, Maria! Talvez a criada! Pronto, mas com certeza uma chita fina, a mais cara do Senhor Luís.
Abandone esses pormenores e fixe-se no meu sorriso, ao som do canto melodioso do que já ninguém sabe de cor...
Maria, olhe-me nos olhos e veja como não sei mentir. Ouça o que digo e responda-me à altura. Embale-me no seu regaço. Pregue-me um beijo e veja a alegria da mão que a puxará, para lhe dar a brancura de uma flor.

"Acordar é que eu não queria... "

hf

(Paula Rego: a aliança dos ratos)