28 de dezembro de 2005

Quatro Paredes

Meu anjo, surpreendeste-me! Olha, agora!Um quarto é só um quarto. Quatro paredes, nada mais, pintadas ou forradas a um qualquer papel, são quatro paredes. Claro que sempre podes ter uma arquitectura diferente, mas percebeste...
Podem ter ouvido muito, ou até nada, mas a casa é pequena e não esperas que as deixasse imutáveis para ti.
Que esperas? Regressar?! Ninguém regressa. No máximo, uma noite, e só se te pedir muito, ou usar o pretexto de um tempo agreste e do escuro da noite. Terás sempre pressa de partir. Não me iludas. Ainda assim, ninguém te tira a cama.
As tuas coisas? O que é teu já levaste há muito. Tudo arderá pelo tempo. Bem sei que seria mais lento do que uma fogueira, mas viver urge. Acelará o processo, nada mais!
Os teus filhos? Sei lá se os conhecerei... Por certo, serás moderno e não terás nenhum. Ou mesmo que os tenhas ouvirão de ti o que quiseres, não precisarão de objecto para saber o que foste.
Com pena de quatro paredes? Pior ficarei eu, emparedada por rugas abandonada à sombra do teu desprezo. Se o mereço... Nem eu sei.
Conheço o meu fim e tu com pena de quatro paredes...


28 Dez
ICBAS, sala dos comp
hf

30 de novembro de 2005

Cunha?! Só se for da portuguesa!

Alegrem-se as almas que a cunha portuguesa é produto de imensa qualidade! O alvoroço criado pelos matutinos é inegável: "28% dos jovens empregados usufruiram da famosa «cunha»!"
Numa altura em que a exportação tem que subir [nota do autor: um tema económico fica sempre bem, nos dias que correm, por isso: "habituem-se!", como diria o Vitorino], o sector empresarial devia adoptar os famosos clusteres de mercado... como a «cunha» portuguesa - essa Instituição! Eu proponho que se embalem em paletes e se exporte a «cunha» pra Suécia e demais países nórdicos! Imaginem a revolução social operada nessas países! Uma ideia revolucionária exportada em rimas de Portugal (trade mark): cargos ocupados por familiares em vez de pessoas melhores preparadas (essa nódoa da sociedade)!
A bem da Nação.

s.chacim :)

25 de novembro de 2005

Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres

"No contexto intrafamiliar, 80 por cento das mulheres foram mortas pelos maridos, namorados, companheiros, ex-namorados ou ex-companheiros" (dados do Instituto de Medicina Legal - Porto, in Publico).

Ainda vivemos nestes tempos, é assustador! Tanta filosofia, tantos séculos, tanta evolução...

Mais alguns dados:

"violência é inimiga da saúde
A violência conjugal tem forte impacto sobre a saúde física e mental das mulheres. Os actos ou ameaças de violência, infundem medo e insegurança. As mulheres têm medo por causa do poder dos homens, em particular dos maridos, e este próprio medo, serve para justificar o poder."

"Contrariando o senso comum, as pesquisas indicam que o lugar menos seguro para a mulher é a sua própria casa. Segundo dados mundiais, o risco de uma mulher ser agredida em casa, pelo marido, ex-marido ou actual companheiro, é nove vezes maior do que o de sofrer alguma violência na rua. Escondida pela cumplicidade da sociedade e pela impunidade, a violência contra a mulher ainda é um fenómeno pouco visível. Os casos que chegam às autoridades são apenas a ponta do iceberg. Os registos de ocorrência nas polícias revelam um número significativo de casos provenientes das classes alta e média alta, contrariando a tese, de que a violência contra a mulher, é apenas o resultado de uma cultura da pobreza ou da baixa escolaridade."

in http://www.apagina.pt/

Peço desculpa pelo longo post mas é um assunto que nos pode ser muito próximo ao lidarmos no dia a dia com estas vítimas e agressores. Há que ter a noção da realidade para que o próximo passo seja actuar.

Margarida

21 de novembro de 2005


Homenagem a todos os meus coleguinhas!

20 de novembro de 2005

médica...

16 de novembro de 2005

crescer...

a liberdade de falar de qualquer outra coisa é muito tentadora...
Abaixo os poemas e vivam as polémicas!
Cessem as reflexões, venham as asneiras!

21 de setembro de 2005

estação

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça

Mário Cesariny

s.chacim ;(

25 de agosto de 2005

Uns Sublinhados

Sossegada a conversa, deixo ainda uns sublinhados.
helder filipe

Alegria Breve
Vergílio Ferreira

Como uma árvore, às vezes, penso o homem pode subir alto, mas as raizes não sobem. Estão na terra para sempre, junto da infância e dos mortos.

Possivelmente eu gostava ainda de me baloiçar_ mas quem podia perdoar-me a infância?

Assenta os pés no chão, um dia hão-de perguntar:
_ Que fizeste da esperança?

Deus dorme, enfim, André. E fá era tempo. Já era tempo de cuidarmos de nós. Ah, a infância acabou, e as fraldas mudadas e o darem-nos comer pela mão. Sol claro com ferro em brasa.

Dedos grossos, a pele engelhada- estás velho? (…) Onde se vê a nossa idade? Estás velho- como? Estou jovem como sempre, porque sou eterno. Só os outros não o sabem, mas que é que sabem os outros? (…)(tenho de comprar um espelho- há ainda um espectador que sou eu.)

Os mortos lembram-me.

A presença de mortos em todo o lado: sapatos da minha irmã, um velho xaile da minha mãe., até a coleira da Lira (…) Destruir tudo? Têm vozes inoportunas.

Estou só, terrivelmente povoado de mim.

E depois? E DEPOIS? Após todos os combates e raivas e esperanças, pergunta sempre «e depois?». Atinge o teu limite, suor, sangue na caminhada, o suor e sangue que te diz a importância do caminhar, e quando chegares ao fim, pergunta ainda «e depois?». Pergunta na humildade ou aos gritos, em despero. Mas pergunta sempre.

Saudade de outrora, que é a saudade da infância? É a saudade de mais longe, o apelo do nunca.

Alguém passou por mim e me roubou, a minha pobreza tem o olhar rendido de um cão.

Ora a velhice tem também o seu interesse. Um corpo velho é tão misterioso. Por exemplo, o que envelhece mais é sempre o que está mais à mostra. Quanto mais à mostra, mais a idade. É, por isso, que por dentro não tenho idade (...)

Não um choro pelo que se me perdeu, mas apenas um choro por mim. Como as crianças quando já esqueceram as razões e choram ainda.

Qualquer coisa perdi há muito tempo e já não me lembro.

1 de agosto de 2005

Mais uma brasa!

Mas que agradável discussão;)
Este fim-de-semana, já licenciado, fui a casa e apercebi-me bem de quão próximo me encontro de mais uma fase deste doloroso processo de crescimento.
As paredes do quarto não facilitaram, provocando-me incessamente, com perguntas mil, sobre o futuro. Projectaram-me para daqui a uns vinte anos, o que estarei a fazer e que significado terão aquelas paredes que me prendem ao que sei ter de deixar! E o que será de quem as habita? Quantas rugas marcarão o resto do caminho que já não é meu... Quantas? Quantas que não vou ver. Restarão as minhas...
A propósito deixo aqui um poema, que confesso o meu preferido de Eugénio de Andrade e que me motivou a este tema!
Um abraço! No regresso de férias, voltarei aqui. Espero que até lá o sete já anda por estas coisas da net!
helder

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
ao fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esquecerei de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!

crescer ainda

Crescer ainda é preciso, sendo certo ser perda continuada... Lá diria o grande hf, crescer é desconstruir-se! bolas, que me tira pensamentos! Ando eu ocupado com isso. Com criar espacos, sobretudo meus. Com refazer o que pensava feito. A desconstrucao é mais penosa que a construcao, digo eu... A construcao é quase sempre numa direccao e com um objectivo determinado (ainda que mude a meio caminho, vezes sem conta!). A desconstrucao é anárquica e aparentemente sem sentido. É nao saber para onde nos leva a estrada e estar feliz com essa opcao! ah, crescer doi!
s.chacim ;(

28 de julho de 2005


A minha cadeira,
O teu pássaro de papel
e a porta que os separa.


Diana Correia

26 de julho de 2005

Poema

Que vazio imenso
Por ter tanta coisa cá dentro
Que não consigo dizer.
Eu, ser insignificante
Que o mundo sabe reduzir tão bem.
Que desejo inoportuno e impaciente
De ter 1/10 de ¼ de talento,
De o saber dizer a alguém.


Diana Correia

(e não Diana Rodrigues, Helder!)

25 de julho de 2005

O que pensei depois do que o Heldinho disse

Mas não serão essas perdas no final um ganho? Não será necessário dar alguns passos atraz para dar muitos prá frente? E atendendo a isso não serão afinal ganhos que se apenas se apresentam sobre outra capa?
(são só mais algumas achegas para continuar as ideias, porque tava a gostar do início)
E como geralmente não consigo desenvolver tais ideias resta-me o consolo das palavras:
"O Homem é um ser inteligente, sem dúvida, mas não tanto como por vezes é necessário".
Saramago (agora já não me lembro onde li mas é dele) fica a esperança de continuar a crescer para um dia ser capaz de desencadear por mim estas divagações.

Couto

20 de julho de 2005

Ninguém diga que não venho cá!

Ninguém diga que não passo por aqui. É pura mentira. Todos os dias, ao ver o meu mail, dou um pulo a este blog e lá vou vendo o mesmo. A inércia nestes tempos nem sequer força o meu andar. Mas adorei a provocação do crescer.
Sabem? Agora ando entretido com esta ideia. Crescer é deixar morrer, deixar partir e viver com essa perda.
Se crescer é, regra geral, garante da almejada maior maturidade e segurança, não é de todo um processo inóquo. Pelo contrário, aliado às múltiplas oportinidades, implica perdas que nos deixam sofridos.
Perdemo-nos irrecuperavelmente. E a masturbação mental poderia continuar. Deixo-a incompleta, para depois.
Voltarei para reconstruir estas ideias.
um abraço!
helder filipe

7 de julho de 2005

Dores de parto

Questão de género? Nem por isso... As dores de parto são achaque de muitos homens... de demasiados. Nos quais penosamente me incluo... As dores de parto são somente dores de crescimento, onde somos obrigados a abandonar úteros aconchegantes, forçados que nos vemos a desbravar desconhecido. Reserve-nos o futuro a fama ou o infortúnio somos arrancados aos úteros maternos. Crescer dói. Crescer magoa sobretudo quem não queria.
Inerente à humana condição, não deixa de lesionar. "Forçoso que nos habituemos!" - dizem os Resignados. "Tontos" - diria o Tomás, feto por nascer, que não quer mudar!
Crescer dói.

;( S.Chacim

22 de junho de 2005

Sinistra (o) !!!

"Sócrates arrisca-se a ficar para a história como o homem que transformou o PS num partido à direita do próprio PSD."

luis osório A CAPITAL, 21 junho 2005

;) s.chacim

21 de junho de 2005

mal de pés


Reflexões e considerações para aspirantes doutores... Essa problemática da medicina actual: o mal de pés...
;) s.chacim

"Mal de pés

Certo patrício nosso brasileiro,
Depois de ter corrido o mundo inteiro
Ao voltar de Paris desenganado
Dos médicos que tinha consultado,
Achou-se num wagon com um inglês,
O desgraçado tinha mal de pés.
E a última palavra da ciência
Era ir vivendo e tendo paciência!

Mostrou-se o bife incomodado,
Fungando para um e outro lado...
Como quem busca o foco de infecção;
Diz-lhe o nosso infeliz compatriota,
A apontar-lhe com o dedo a bota
E exalando um suspiro de paixão:
- Eis a causa, senhor, eis o motivo!...
O que eu não sei é como ainda vivo!
Tenho gasto rios de dinheiro,
E sempre, sempre, sempre o mesmo cheiro!

E isto por ora vá!... mas alto dia
Quando aperta o calor... Virgem Maria!...
«E diga-me: em lavando os pés refina,
Ou sente algum alívio?»
«- Isso não sei,
Sei que tenho exaurido a medicina;
mas lavar é que nunca experimentei.»

Às vezes dá-se ao médico o dinheiro
Que se devia dar ao aguadeiro."

João de Deus (1830-1896)

17 de junho de 2005

achei que devia

o meu editor não usou esta sugestão na edição que sairá do por um outro lado (ih ih ih). agora que temos esta coisa moderna dos blogs, pelos vistos, podemos por tudo o que nos der na telha. e este, principalmente este, achei que devia. ana belo*

"acerca de gatos

Em abril chegam os gatos: à frente
o mais antigo, eu tinha
dez anos ou nem isso,
um pequeno tigre que nunca se habituou
às areias do caixote, mas foi quem
primeiro me tomou o coração de assalto.

Veio depois, já em Coimbra, uma gata
que não parava em casa: fornicava
e paria no pinhal, não lhe tive
afeição que durasse, nem ela o merecia,
de tão puta. Só muitos anos
depois entrou em casa, para ser
senhor dela, o pequeno persa
azul. A beleza vira-nos a alma
do avesso e vai-se embora.
Por isso, quem me lambe a ferida
aberta que me deixou a sua morte
é agora uma gatita rafeira e negra
com três ou quatro borradelas de cal
na barriga. É ao sol dos seus olhos
que talvez aqueça as mão, e partilhe
a leitura do Público ao domingo.


Eugénio de Andrade, Os dóceis animais

porumoutrolado

porumoutrolado em blog

o porumoutrolado estreia-se no formato de blog. Com este, pretende-se que cada um possa, no compasso de espera ( que quase desespera) da publicação, publicar as provocações, reacções e outras coisas que tais... que mantenham o nosso projecto.

Mandem-me um mail (helderpe@hotmail.com) e mando-vos a password!