1 de agosto de 2005

Mais uma brasa!

Mas que agradável discussão;)
Este fim-de-semana, já licenciado, fui a casa e apercebi-me bem de quão próximo me encontro de mais uma fase deste doloroso processo de crescimento.
As paredes do quarto não facilitaram, provocando-me incessamente, com perguntas mil, sobre o futuro. Projectaram-me para daqui a uns vinte anos, o que estarei a fazer e que significado terão aquelas paredes que me prendem ao que sei ter de deixar! E o que será de quem as habita? Quantas rugas marcarão o resto do caminho que já não é meu... Quantas? Quantas que não vou ver. Restarão as minhas...
A propósito deixo aqui um poema, que confesso o meu preferido de Eugénio de Andrade e que me motivou a este tema!
Um abraço! No regresso de férias, voltarei aqui. Espero que até lá o sete já anda por estas coisas da net!
helder

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
ao fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esquecerei de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!

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