23 de janeiro de 2008

De volta à roda do mundo, ainda saberás rodar?


Patrícia auscultou-lhe um coração partido. Partido, Paula sorriu, do jeito que se faz quando nos dizem o óbvio. Nem um suspiro, nem um comentário, apenas um sorriso talvez também por ver-lhe reconhecida aquele lacinante aperto que a incomodava há muito. Sim, eu sei. Nada mais e já fui muito, talvez demais. Patrícia, essa armazenou o caso, mais um que se parte. Acontece. Fragilidades de um ser. Mas há coisas piores, pois então. Repouso, muito repouso. E as melhoras. Obrigada. Obrigada por quê? Por nada, mas saiu-lhe por educação. A dor era sua e teria aprender a viver com ela. Tudo passa... rematou a ciência ante um coração partido.
(fátima mendonça, cordeiro)
hf

2 de janeiro de 2008


Encontrei uma palavra a tentar cair do dicionário. A dúvida infiltrou-se-me por percursos já conhecidos. Talvez o primeiro ímpeto tenha sido o de a forçar a voltar, talvez fosse o segundo. Sei que foram tantas as voltas que perdi a noção de qual o primeiro movimento. Porventura poderia ser importante, fazer a memória ter um esforço, não vá esta ordem de aparecimento estar relacionada com a sua relevância. Não sei se o Guilherme já o sentiu, mas é tão terrível como descobrir que os dias se sucedem sem reflectirem a nossa vontade; e esta comparação é válida, não se apresse a dizer-me que a primeira depende do movimento da nossa vontade. Se o fizer, então nunca o viveu. Descobri que a palavra caiu numa cadeia de acontecimentos inexorável! Até me passou pela cabeça memorizá-la para a voltar a escrever, quando as correntes se acalmassem, mas não! Não e não! Nem me lembro da palavra, sei que o dicionário já não a tem, como qualquer dia perderá outras, e até verá novas serem-lhe escritas.
É terrível, terrível, meu caro perceber que muito passa sem o nosso controlo, mesmo o que a priori pareceria resultado de um esforço volitivo. Terrível também o desespero de não lhe percebermos o rumo.

hf
(fotografia: Chema Madoz)