11 de outubro de 2013

Não há mais histórias como aquela

Não há mais histórias como aquela porque as regras das probabilidades que jogam com a vida ainda não encontraram mais nenhuma porta a quem tal acontecimento possa bater.

Faltam os atores.

Falta o cenário.

E falta sobretudo uma personagem como a Rita, que se apresse a abrir a porta perante um bater tão ligeiro:


Corre, Rita! 
Corre, Rita! 
A porta! 
A porta! 


Não falta quem bata assim. São maneiras que se aprendem e que se enraízam nuns quantos, porque dão resultado. Mas o mundo também aprende a desconfiar.  Bateres assim só são bem sucedidos por tempo muito curto, passando ser vistos como uma pedinchice, altura em que terão de encontrar outros ouvidos.  Feitas as contas das probabilidades, haverá sempre quem caia nesses bateres mas nunca haverá quem caia como Rita caiu.



Rita caiu.

Com a queda

Levou sonhos
e tudo o que a suportava.

 
Foi tão grande o estrondo que o sorriso que se apressa a acrescentar neste embaraços foi ineficaz.

Estatelada.
Caída.
Derrotada.

...

Mas, o raro ainda se tornou mais raro. Os sonhos não se desfizeram com a queda e numa elasticidade, que o tempo faz agora ver como fantástica, saltaram para onde vieram e uniram-se a Rita, na sua quase imediata ortogonalidade.






8 de maio de 2013

Para um ensaio sobre o esquecimento

Na história dos tempos, há histórias que ficarão sempre por contar. Dirão os sábios e os bem-resolvidos: disto é a feita a vida. É, nessa vida, que, competindo com os acontecimentos do presente e a imaginação do futuro, se agitam e reconstroem as memórias das histórias. É, nessa vida que se ri e que se chora com o recordar, que se regozija e que se arrepende, que se contam e recontam as histórias do que já foi. Quando se dá o último suspiro, leva-se consigo tudo ou quase tudo e deixando apenas "o que fica".

Ficarão os registos de palavras, de imagens e de sons gravados nos memórias dos estão vivos e gravados porventura num qualquer suporte físico, se essa sorte lhes aprouver.  Ficarão as pessoas, que podem ou não consultar esses registos e reavivar as histórias.


De uma vida de memórias, pode ficar pouco ou quase nada. Há velhos que morrerão no alto da serra sem deixaram um único registo, ou uma alma que se lembre deles. Mas, pode ficar mais, muito mais, como ficou de tantos que nos enchem a história. E, à medida que se avança no mundos dos gigas e dos terras na palma da mão, ficarão ainda muitos mais registos, muitos mais, de tal modo que podem  ultrapassar o limite de armazenamento da memória humana.


Mas a vida das histórias está na vida. Os registos só regressarão a uma qualquer forma de vida, quando encontrarem corpos sequiosos por saberem as histórias que aqueles registos albergam. Há caixinhas de lata com umas quantas fotografias que nunca vislumbrarão a luz de nenhum olhos. Há diários que nunca serão abertos, que morrerão com o expirar do papel. Há gigas e bytes que se vão dissipar até serem eliminados pelo tempo ou por um servidor. Há livros que vão ser guardados e abertos só passados muitos anos, num tempo em que já ninguém sabe quem foi o autor. Nem todos poderão ter a alegria de marcar a história do seu tempo, e mover homens e mulheres em busca de uma página da nossa história muito depois da sua morte. No entanto, alguns, mesmo que não marcando a história, podem deixar quem os fará viver depois da sua morte. Talvez isso seja mais certo no caso de descendentes, para quem os tenha, mas haverá também amigos, conhecidos e outros que se lembrarão de alguma parte dos que já se foram.

Ora dito isto, o que fazer de tudo o que se vai com este esquecimento? Talvez seja aqui que começa o tal viver no momento.

31 de março de 2013

lágrimas II

Desceu,
despreocupada,
a lágrima,
coitada.

Rompeu por um sulco
e encontrou jeito de cair,
redonda,
só,
esmagada
numa pedaço de chão
que enchia o nada.


Os olhos,
que a viram parir,
fixaram-na e
perceberam lamentos
ainda por contar...


Outros olhos,
que não lhe sabiam a dor,
viram o molhado do chão:
Faz chuva em pleno verão?

lágrimas I

Ui!

Uma lágrima que se desprendeu.

Apressem-se!
Apressem-se, mãos
e desfaçam a coitada!
Que ainda não se saiba
do que padeço eu.

Histórias

Sei de histórias lindas,
lindas de morrer.
Li-as,
ouvi-as,
vi-as
e algumas até as escrevi.

Saltam-me ao pensamento,
umas quantas,
mas vêm tão depressa
tão depressa
que a caneta atrapalhada
nem tem tempo
para as prender...
E logo vêm outras
que adormecem as primeiras.


Ah, se tas contasse...
Se tas contasse,
gostava de ouvir um "Ah!"
um "Oh!"
risos!
lágrimas!
e sorrisos, muitos.


Se tas contasse,
seriam nossas e
não apenas minhas.

Mas não tas conto,
nem tas digo antes do tempo.
Não vás tu não ter ouvido
E eu ficar sem alimento.