14 de setembro de 2006

Crescer capitalista, num poema pobre e pretencioso

Insiste em brotar, mas sabe que morre.
Não pensa nisso, dói-lhe.
Produz e compra, vive assim.
Sabe que não se merece, mas
Puta que pariu se isso interessa.

Ninguém merece!

Ganha e gasta
e Ganha e gasta
e Ganha e gasta...

e Sabe que quando morrer, o caixão será de carvalho,
Forrado a veludo e cetim
Com o melhor fato vestido...
e, Estranhamente, pensa-se feliz assim.

Sérgio Figueiredo

7 de setembro de 2006

Vícios do Coração



Ouvi dizer que hoje era o dia. Vesti-me em pura obediência ao espelho. Ditou-me que vestisse o que só uso por vezes, mas que até eu sei que me cai bem. Saí à rua com o pé direito, que molhei imediatamente por estar a chover. João, empresta-me o guarda-chuva! Molhei-me todo o caminho, João já não está. Ainda o chamo. São hábitos que se criam e insistem em ficar. Desconfio que é um vício do coração. Às vezes, conto-lhe deste meu hábito. O telefone não transparece a cara, mas sei que não gosta. Ainda assim, viciada que sou, conto-lhe e logo lhe peço desculpa por o fazer, o que o irrita mais. Mudemos de assunto e tu estás bem? Desde que saiu de casa, nada mais falamos do que trivialidades. Não sei se algum dia, os assuntos foram outros, mas os de hoje, sinto-os vazios. Assim, como a casa, o quarto, os brinquedos, os livros, tudo que ele deixou e já nem o sabe procurar.


Patética, sim, sou. Nunca pensei usar das habilidades mentais que reconheço a quem chamava de velhos. Agora, sou eu a velha, que deixei de viver e agarrei-me a um filho, que já não é meu.

Sim, eu sei tudo, mas o coração tem vícios.

hf

(Visitação, Graça Morais)

Nasceu

Nunca lhe agradeci o texto. Guardei-o e deixei-o como uma novidade para a edição 8, mas a demora, que me envergonha, faz com que parece injusto não o publicar. Sérgio Figueiredo: a primeira participação neste porumoutrolado.

Nasceu, conheceu a mãe e afeiçoou-se a ela. Foi conhecendo o pai, e afeiçoou-se gradualmente, bem como aos irmãos.
Cresceu...
Começou a reparar nas outras pessoas, e afeiçoou-se a elas. Fez amigos dessas pessoas e foi ganhando a afeição deles. Entrou na escola e afeiçoou-se pelo conhecimento. Fez desporto e afeiçoou-se pelo corpo.
Cresceu...Comprou coisas, às quais se afeiçoou, e sentiu-se nelas.
Cresceu...Teve amores pelos quais se afeiçoou e desprendeu, afeiçoando-se à liberdade de não estar preso a ninguém...
Cresceu...
Saiu de casa e entrou na faculdade, e afeiçoou-se à liberdade e responsabilidade.
Cresceu.....
....
foi-lhe tirado o gozo da vida....
....
suicidou-se...
Morreu...
(a dor não faz crescer)

Sérgio Figueiredo
(ok, o texto é algo drástico - se ignonarmos quão pobre é a escrita e eventuais erros ortográficos ou gramaticais - acaba por ser bastante honesto, embora não represente o eu que sou - só para não existirem alarmismos)