24 de novembro de 2007





Lembra-se de lhe contares tudo e de se perder num olhar teu. De palavras poucas, antes de um sorriso. Mais ainda do gelar do corpo perante a tua voz. Rita nunca se esqueceu e remói o dia em que lhe fizeste perceber o movimento giratório do mundo. As lágrimas nunca serviriam para secar um momento, mas apenas para o tornar menos penosa a sua progressão. Esta era inexorável, e Rita entendeu-o bem. Agora , fica o esperar que uns graus de latitute mais à frente tudo voltasse a fazer sentido, se bem nada como dantes.




A frase bateu-lhe três vezes, tornou-se batida e não negou: é minha!


hf


(Paula Rego, a dar de comer)

1 de novembro de 2007


Ainda olhou para trás, com a vanidade de quem se sabe em sentido contrário.
Ana protestava contra a soma inabalável dos vectores que lhe prendiam a alma.
Houve tempos em que se arrancaria do seu lugar, abandonaria o seu caminho e talvez partisse em busca de um reflexo, ainda que o pecado de estar a fugir lhe encostrasse algum arrependimento.
Agora, o tempo é outro. Guardem-se as armas, não com o sentido de que amanhã poderão ser necessárias. Não. Ana vislumbrou todo o seu caminho e advinha que jamais haverá lugar para esse tipo de lutas. Segue no rumo das rodas e conhece o seu destino. Percebeu a pequenez da vida que lhe cortou raizes, mas não lhe deu tempo para florescerem asas.
Percebeu tudo, excluiu-se de querelas irresolúveis e muniu-se apenas do que sabe essencial.
Deixa-se sentada e a vida passa.
hf
(Dali, Elementos Enigmáticos)