9 de março de 2009

Queimaram-me o sonho mais bonito que tive numa manhã de inverno.


Não, o sonho não tinha tempo, foi queimado numa dessa manhãs em que o gelo brilha como orvalho triunfante em seu apogeu. 
Acordei e apercebi-me daquele odor a queimado. Também aquele sonho não se concretizaria. Era talvez o último do género. De que género? Do género desses que conservam a ingenuidade de criança: se acreditarmos muito, talvez aconteça! 
Os sonhos acontecem por querermos muito. Aproveitamos uma pestana caída e desejamos fortemente. Nao o podemos é contar a ninguém. Contar estraga. É um acordo que fazemos com quem manda. Se nos portamos bem e sobretudo se nos mantivermos em silêncio, para não abrirmos precedentes,  tornará-se-á realidade. Esperamos, com essaa certeza porque estamos a cumprir as regras e é assim que se joga.  Só não sabemos quando, o que nos faz viver uns quantos falsos alarmes. Meros ensaios, porque temos tudo planeado. Acreditamos tanto, tanto, tanto; é preciso e o mundo é mágico. 

Pois foi, queimado e morto. Agora virão outros sonhos, mas nenhum outro como aquele. 

Rita, num monólogo.

(A. Jawlensky)