11 de setembro de 2008




Enfrentou as rugas, uma a uma.
Por cada ruga um sonho perdido, ainda lhe saiu a frase, mais poética do que real. Bom seria que assim fosse, eram bem mais os sonhos derrotados do que aqueles riscos na sua face.
Margarida perdera-lhes a conta.
Nascera com o rasgo incrível para sonhar. Caminhava com o brilho dos olhos de quem acredita. Viu-lho José tantas vezes, assim como as em que lhe amparou a frustração.
Viu ela os sonhos, todos e mais alguns, através da câmpanula de vidro onde se agitava. ( Como se houvesse mais alguns que aquela cabeça não se lembrasse... Havia, pois, mas paulatinamente se calaram nesse mesmo mundo em que Margarida se fechou. )
Via-os ela todos os dias quando se investia num mundo que lhe era alheio. Reconhecia-se como ninguém. Eram as suas roupas, as suas frases, os seus amigos... Era ela, no corpo de outra, e de outra, de tantas outras que podiam sorrir.
Margarida recolhia-se naquele espelho, onde tentava integrar a vida frustada naquela cara enrrugada.
Havia duas pernas que sozinhas não podiam andar. Não somos os únicos motores da nossa vida, tentava calar o abalo do ego.
Havia uma vida que não era a sua, mas que tinha que viver. Não nasci para isto, cada um é para o que nasce. A velha Dulce sempre lhe gritava ao ouvido. Cala-te, mulher. Dorme. Amanhã é outro dia.

(paula rego)

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