22 de setembro de 2008


Acordou com um desagradável odor a vazio, o mesmo em que conseguira vencer a insónia.

Estava tão velha e acabada. Repetia-se em si própria o que ouvira contar a Filipa. Fugir dos que nos trazem tão más notícias. Filipa contou-lhe prontamente, era um misto de admiração e ódio para com a diva. Ana ouviu e, como sempre, ensaio um riso de desprezo, não maior do que o da outra, que regozijava com a má nova.

Chegada a casa, a história era diferente. A mais tinha descoberto três rugas fortes de cada lado dos seus olhos, que há muito a massacravam. Não esperava um Dorian Gray, mas custava-lhe assimilar aquele fardo, pesado demais para quem acreditava ainda não ter começado a viver.

O tempo por ti não passa. Como sempre, tão bonita. Ainda que estes fossem mais frequentes, esfregados em tantas circunstâncias sociais, Ana revia-se com outras estatísticas e o velha e acabada soava-lhe a verdade crua: um coração pobre e cansado numa carcaça que envelhecia precocemente.


(amélia fernandes)

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