24 de setembro de 2008

Discursos Imperfeitos


Houve cartas que não escrevi e palavras que nunca disse e nem uma lágrima me corre no rosto por isso. Nada se perdeu, continuava Ana, como se poderia perder? Não houve vitórias, não houve derrotas. Somos muito pequenos, nem todos os actos vão fazer estremecer o mundo, nem mesmo nós próprios.
Talvez abalar o mundo não deva ser a prioridade das acções. Contrapôs o outro, melhor seria se tivesse ficado no silêncio. Todos sabiam que quando botava faladura, Ana não valorizava contraposição, muito menos se gratuita. As opiniões não se discutem, estou a dar a minha, posso estar errada, mas não me importo.
Desta vez, diferente, Ana respondeu: Tens razão, nem todos os nossos actos tem esse objectivo, muito pelo contrário. Percebeu-lhe a estupidez, mas preferiu não deixar-se ferir, estava muito presa aquele texto. Retomou. Posso conviver com essa inutilidade de muitos gestos meus, assim como aqueles que deixei de fazer.
Falou ainda de vidas, de percursos pequenos, condenados de início que, nem por isso, deixam de o ser.
Não devemos esperar muito de uma vida onde não somos os únicos actores. Se este palco fosse só meu...Não conseguiu prosseguir por mais tempo, todas as palavras soavam-lhe ocas e limitou-se ao habitual, tentando fingir que aquele pateta não lhe havia arruinado o discurso.
(lourdes de castro)

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