31 de agosto de 2008


Talvez nunca o ouvisses, mas Ana disse-o claramente. Tal como aqueles cometas que só aparecem de cem em cem anos, aquele tinha sido um acontecimento único e irrepetível.

Ana. De todos, menos de Ana, se esperaria tamanha afirmação.
Há coisas que só se deveriam dizer no último sopro de vida, porque afinal todos temos presente, mas sobretudo ela, o que um calendário ou até um relógio podem fazer a uma vida que se diz feliz.
Há coisas que só se deveriam dizer quando tivéssemos provas irrefutáveis e inabaláveis de que não vamos ser atraiçoados.
Há palavras que têm significados que ardem e que aleijam os que delas fazem um uso inadvertido.

Ainda assim
sem livros, árvores, ou filhos,
sem a quem chamar amor de vida, ou se embalar em noites de insónia,
com um grande nada e de mãos vazias carregando uns sacos de papel,

Ana desafiou os sonhos e quem escreve sobre eles, e, num raio de luz que rasgou o mundo, gritou ser feliz.

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