23 de agosto de 2008




É uma imagem? É uma imagem? É uma imagem que vale mil palavras?
Continuava Ana.


Uma imagem vale mil palavras.
Ouviam-se os risos. Paulo cúmplice sorria.


Quanto valerá o teu riso?
Pensou alto, talvez pouco.
E então o teu sorriso? Esse valerá mais?


Meu amor, o meu sorriso vale quanto tu quiseres.
Por momentos, pensaram, até mesmo a própria, que Paulo tinha conseguido o silêncio da diva, mas esta proseguiu após uma breve pausa.


E uma lágrima? Quanto vale uma lágrima?
Ouviu-se o silêncio de quem presta atenção.


Quanto vale uma lágrima? E se uma lágrima valer muito, quanto valerão as minhas?
Se eu chorar com muita força, deixo de me sentir?

Paulo permanecia cúmplice num mundo alheio
Estendeu-lhe o abraço de sempre que, também naquela noite, não lhe calou o sofrimento.

(As palavras acabariam por se esgotar horas mais tarde, como folhas rasgadas de um dicionário, que, nem por isso, deixa de existir.
Ana aceitaria o abraço e repousaria o tormento num ombro que não era o seu.
Paulo abandonaria um pedaço do seu coração já com pouca vida: guardado estará o bocado para quem o há-de comer!)

(Marlene Dumas)

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