25 de maio de 2008

choveu tanto naquele dia



No início, todos acharam graça: o cheiro da terra molhada, a bom tempo vinha para as colheitas, também é preciso que chova, abril águas mil, entre muitas outras expressões de louvor ou pacífica aceitação que fluíam na boca de todos.
Depois, despertou-se a repulsa a um tempo que tardava em não mudar. Houve uns, em que essa reacção veio bem cedo; outros só muito lá para o fim. Era o incómodo de ter de andar sempre de guarda-chuva, a roupa de verão que se queria usar, o desagradável de estar tudo molhado, até mesmo a roupa que já não secava Ateou-se o fogo da desgraça e todos, ou pelo menos a maioria visível, estavam já contra esta chuva.
E depois?

Protestar. Manifestar. Um abaixo-assinado, a entregar a quem? O governo? O governo estava longe de controlar o tempo atmosférico. Esgotaram-se rapidamente as ideias de projectos de revolta. Esperar pareceu o mais razoável. Ouviram-se risos quando um dos líderes de opinião o disse, que mais opções haveria senão a de esperar? Esperar não era uma opção, era o inevitável. Calava-se a revolta, agora inútil, e simplesmente aguardava-se que o tempo mudasse.


hf
(bem-vindo à cidade da paz, fátima mendonça)

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