7 de maio de 2008

ter a razão


Ana convenceu-se da razão, gritou-o alto em gestos e palavras que veiculam bem aquela certeza. Se alguém estava errado, não era ela. Rita, imperdoável. Paulo, lamentável. Maria, nem valeria a pena comentar.

Expos os seus argumentos, vezes sem conta, sempre que alguém lhe perguntava sobre o que passara. Entre mortos e feridos, Ana saira com a certeza de que ninguém lhe poderia ter feito o que fizeram, Não haveria retrocesso até a mágoa passar e isso, bem sabia, só depois de uma prova séria de arrependimento. Ora, a prova não veio. Nenhum dos restantes envolvidos se adiantou com tal manifestação. E tudo isto martelava na cabeça de Ana.

Eram regras com a transparência matemática, universais, as que tinham sido ofendidas, como não se adiantarem os ofensores e mostrarem reconhecimento do erro e arrependimento? De muito pouco lhe valeria a certeza de estar certa, se os outros não agiam como tal? De muito pouco, mesmo, ao ponto de reconsiderar argumentos, avançar para o telefone e tentar colocar um ponto final em todo aquele espectáculo de profunda falta de sentido, mostrar ela própria arrependimento por uma eventual falha... Mas também isso não veio.
Ana estava diferente porque não estava só. Não eram três contra uma, era uma uma com muitas certezas dessas enraizadas e que falam por nós: o tempo passa, e estava disposta a esperar até que tudo se recompusesse.


hf

joao francisco

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