4 de abril de 2009


Eram pedaços, pedaços pequenos de uma vida que se desfaziam em minúsculos fragmentos cortantes. Caiam como caiem nos sonhos os espelhos partidos e sentiam-se também como estes e com o azar que transportam. 
Cada um, uma memória, um entrelaçar de histórias a insistir manter preso aquele corpo. 
Havia momentos em que Filipa voava, gritava em som de gaivota no céu azul, desenhando trajectórias quase de pura liberdade. Noutros como este, a ameaça tornava-se no pior dos pesadelos, por se tão real e cruel. 
Uma vida desfeita em lâminas de um espelho partido. Em cada farpa, o reflexo de tudo o que foi. Em cada corte, o vermelho a lembrar que não podemos fugir de nós próprios. Era Filipa em convulsão exagerada por mais um dia que lhe fugia das mãos. 

Dan Graham

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