25 de janeiro de 2010


Uma vez por outra, nem se fala de amor, mas de tanta outra coisa que, frequentemente, parece gravitar como pequenas luas em seu redor. Rita falava da sua idade. Samuel, atento, escutava-o como se a um profeta.

Sabes, contava-lhe, o pior não é o que encontro no espelho. Com isso posso eu bem. Ele não duvidava de que o espelho não a amedontrasse. Rita tinha no espelho o seu maior aliado. Eram os seus olhos que o viam. Eram os seus olhos que se viam reflectidos num brilho inegualável. São os olhos dos outros! Esses que me matam, me dizem que o tempo passou e que devo mudar.

Samuel vislumbrou o seu mundo invertido: como poderia a mulher que aquele pobre ser tanto admirava estar insatisfeita consigo mesmo, a ponto de considerar a eventual opinião dos outros? E que outros? Para todos, Rita, sempre segura, regia-se pelo seu próprio livro, cujo conteúdo todos queriam ler e memorizar.

Talvez por uma qualquer força telepática, Rita apercebeu-se do pensamento que ia na cabeça do recém-conhecido, e, tal estrela, que não quer perder o brilho de quem a admira, rematou: Mas que sabem eles? Só estariam satisfeitos se fosse feita da mesma massa que petrifica com o tempo.
E calaram-se as vozes e os medos.

(j. miró)

Nenhum comentário: