17 de janeiro de 2010


Nunca ou poucas vezes as portas e as janelas daquelas ruas viram mulher igual. Samuel indagou a medo: Já reparaste como todos te olham, Rita? Pareces ter uma magia especial. Rita ignorou-o, ou talvez tenha sorrido. Nela, o sorriso era uma expressão automática.
José, que caminhava atrás dos dois, seguiu atentamente a reacção de Rita. Todos sabiam que ela prendia muitos olhares, todos os sabiam, mas ela negava-o sempre. Samuel, novo e talvez apenas transitório na vida dela, foi o único a admirar-se com o efeito de Rita. E poderia bem ter sido nesse momento que Rita assumiria: Sim, sei que prendo muitos olhares, mas são só olhares, nada mais. Nunca me verás prender corações. Palavras que José ouviria apenas tempos mais tarde, numa noite bem diferente daquela.

(Richard Hamilton)

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