3 de dezembro de 2007

quando o coração ficou pequeno


Ainda se recorda do dia em que acordou e sentiu um coração pequeno. Reconta-o de um modo tão dramático, como se fosse uma verruga que tivesse nascido bem na ponta do nariz, de um dia para o outro e o espelho da manhã trouxesse essa novidade. Há dias, em que Teresa, bem mais racional, é capaz de se perder em explicações mais plausíveis sobre a pequenez do seu coração. Envolve-se de tal modo no discurso, que a interrupção pode ser fatal, tornando-se bastante desagradável. Ninguém lhe escuta a dor de ter um coração pequeno, retoma o romantismo e, por vezes, o envolvimento é tal que até verte uma lágrima. Curioso, mas há dias em que o sol lhe ilumina a alma e faz uma ou outra graça sobre o assunto. Dias há em que logo se arrepende da jucosidade e assombra o momento com um deviam ter respeito. Há horas em que tudo parece ser normal, e até se ri da sua patetice.


Às vezes, até Paulo se interroga se também ele terá um coração pequeno. Dedicar-se durante tanto tempo sobre a má sorte de Teresa, e , se no final, também o dele for pequeno. Por momentos, chega a esquecer-se de Teresa, mas logo tudo volta a ser como era.


Por que raio tenho um coração pequeno?, grita Teresa ao espelho.
hf
(fátima mendonça)

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