21 de fevereiro de 2007

| o prego e o mar


estava longe de ser velho. tinha ainda a juventude na fronte. tinha ainda a cabeça cheia de certezas.

da juventude não se libertaria naquela noite. mas estava agora, com certeza, um passo adiante no seu afastamento dos verdes anos.

disse-lhe ela que merecia ele melhor. não conseguiu concordar. mesmo acenar. um aceno teria bastado para quebrar o silêncio que enchia cortante a sala. até os estranhos em volta pareceram concordar com ela. o tirintar da loiça parou em frente no café, tal era o acordo do mundo em geral. ele emagrecia, na sua mudez. ela falava sem brotar som. conversaram durante horas, calado que se mantinha ele, absorto em ruminações tacanhas.
julgava-se pelo que quis fazer, penalizava-se pelo que devia ter tentado, sem nunca abrir a boca. ela cavalgava pelo pântano do injustificável, para nunca admitir o que ele sabia. ele desaparecia de inanição. ela desapareceu do café, só de solidão.

estava cansado de tanto envelhecer. as dores do crescimento quebravam-lhe o corpo, as lágrimas brotaram finalmente de tanta dor. e foi para casa, afundado como prego em maré vaza.

2 comentários:

porumoutrolado disse...

esqueci.me de assinar
schacim:(

Anônimo disse...

que bom ter-te por cá, a ti e ao teu habitual brilho.
abraço grande

hf