1 de fevereiro de 2008

E depois veio o perder...



E perdeu tudo. Tudo o que tinha e julgava seu. Tudo que ainda era nada, mas lhe estava prometido. André percorreu aquela sala vezes sem conta, fazendo estranhos desenhos de desespero. Perder tudo? Havia coisas que nem se importaria e sempre soube que lhe eram emprestadas, mas e o resto que já era tão seu? E o que era quase seu? Surgiram estas no meio de tantas outras indignações.

O tempo passou, cerca de 30 minutos, André ensaiou esforços de resígnio e quis tirar do saco a sapiência que não era sua: tudo ainda será meu, mas de um modo diferente. Reconheceu imediatamente o seu alheamento a estas palavras, lançou um grande ai e a revolta continuou, continuou e continuou até o relógio marcar mais uma hora e André perceber o vazio dos gestos e palavras contra a pontualidade de um relógio e decidir calar todo o seu desespero.

hf

(júlio pomar: gato e o violino)



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