10 de abril de 2016
The numbers of his age
The numbers of his age
are heavy to his shoulders.
Numbers of unmet expectations
of what was certain to appear.
trees that failed to blossom,
nests that failed to be built,
ties that failed to be formed.
Numbers of what collapsed,
ships that were foundered,
palaces that were demolished,
crops that that were spoiled.
Numbers of what is still here
and has remained unaltered.
They nullify all the others
for there has been only one life
and the same person within.
4 de abril de 2016
20 de março de 2016
Aquelas eram as mulheres
das esperas desesperadas,
das noites mal dormidas
no conforto do sofrimento.
Aquelas eram as mulheres
satisfeitas na sua insatisfação,
superiores na sua abnegação,
valiosas quando esquecidas.
Soltavam lágrimas e gemidos,
como outros, risos e sorrisos.
Sabiam-se incompreendidas
só a elas lhe doíam as feridas.
Cantavam poemas de dores,
lamentos de falsos amores
de traições e ingratidões,
de vidas mal fadadas,
alheias, mas tão suas.
Mãos acorrentadas a terços
de lágrimas e tormentos,
de socorros e milagres,
de pecados e arrependimentos,
viviam ajoelhadas e vergadas
ante do exemplar sofrimento.
Faziam contas e mealheiros,
sabiam que eram as últimas
e quem eram os primeiros.
Quando o final se acercava,
partiam sós e incompreendidas
como os terços e as novenas,
como os choros e os lamentos,
como as moedas nunca trocadas.
das esperas desesperadas,
das noites mal dormidas
no conforto do sofrimento.
Aquelas eram as mulheres
satisfeitas na sua insatisfação,
superiores na sua abnegação,
valiosas quando esquecidas.
Soltavam lágrimas e gemidos,
como outros, risos e sorrisos.
Sabiam-se incompreendidas
só a elas lhe doíam as feridas.
Cantavam poemas de dores,
lamentos de falsos amores
de traições e ingratidões,
de vidas mal fadadas,
alheias, mas tão suas.
Mãos acorrentadas a terços
de lágrimas e tormentos,
de socorros e milagres,
de pecados e arrependimentos,
viviam ajoelhadas e vergadas
ante do exemplar sofrimento.
Faziam contas e mealheiros,
sabiam que eram as últimas
e quem eram os primeiros.
Quando o final se acercava,
partiam sós e incompreendidas
como os terços e as novenas,
como os choros e os lamentos,
como as moedas nunca trocadas.
14 de março de 2016
21 de fevereiro de 2016
footsteps
She walks unhurried and uninterested.
Urgency would not be suitable,
the destination is undetermined.
Interest is yet to be sparked,
the surroundings seem sterile.
The sound of new footsteps
immediately rearranges her mind,
it starts to wander in anticipation.
She has been longing for feelings
experienced in her first encounters,
as when she was an unworried child
who, upon hearing her mother's footsteps,
would run excitedly to meet her.
As the foreign footsteps near hers,
she fears the collapse of a fantasy,
but her body does not surrender,
conditioned, it acts without cease.
The contact is arranged,
first, steps with steps,
and it hastily proceeds.
Her eyes meet his,
the fantasy flourishes,
their fragments coalesce,
the two become one.
When the sun rises and all is clear,
her heart's crevices reappear.
Fully awake, she returns to her path
and to the sound of her own footsteps.
20 de fevereiro de 2016
A body heavier than theirs
A body heavier than theirs,
a water heater discarded on the side walk
had become indispensable to them
and should be pushed into their truck,
as they glimpsed life in the defunct machine.
Maybe they could still reanimate it,
or perhaps they could dismantle it
to change the fate of other machines.
The future was uncertain, yet firm
enough to invigorate their muscles
and challenge learned weaknesses.
After each effort undertaken by one,
a reciprocal effort made by the other.
At no time, words were spoken,
for their eyes sufficed in the battle.
Whenever hers were about to forfeit,
his made her regain strength and hope.
Whenever his would search for the ground,
hers encouraged him to look up and proceed.
When their struggle came to an end,
and the object was finally secured,
again, no use of words was seen
for their eyes had voiced them all.
a water heater discarded on the side walk
had become indispensable to them
and should be pushed into their truck,
as they glimpsed life in the defunct machine.
Maybe they could still reanimate it,
or perhaps they could dismantle it
to change the fate of other machines.
The future was uncertain, yet firm
enough to invigorate their muscles
and challenge learned weaknesses.
After each effort undertaken by one,
a reciprocal effort made by the other.
At no time, words were spoken,
for their eyes sufficed in the battle.
Whenever hers were about to forfeit,
his made her regain strength and hope.
Whenever his would search for the ground,
hers encouraged him to look up and proceed.
When their struggle came to an end,
and the object was finally secured,
again, no use of words was seen
for their eyes had voiced them all.
13 de fevereiro de 2016
Don't forget to close the door
Don't forget to close the door.
I'll close the windows myself.
Nothing should enter the room
for much of it has been invaded.
There are memories to be erased,
there is distance to be regained.
There is dirt to be washed out,
there is stuffiness to be aired,
there is tightness to be released.
All within should resume its nature,
the state that grants foreignness space,
because only what is yours can you donate.
I'll close the windows myself.
Nothing should enter the room
for much of it has been invaded.
There are memories to be erased,
there is distance to be regained.
There is dirt to be washed out,
there is stuffiness to be aired,
there is tightness to be released.
All within should resume its nature,
the state that grants foreignness space,
because only what is yours can you donate.
10 de fevereiro de 2016
tempo
Suspender este tempo como ele é medido,
despertando-se para o verdadeiro tempo.
O tempo sem relógio ou calendário.
O tempo que é apenas um só período
entre dois marcos: o começo e o fim.
O tempo sem horas, tempo sem demoras.
O tempo que não espera, nem desespera.
O tempo que só conta no fim de tudo,
e essa conta só pode ser tarefa alheia.
Na nossa conta, só há um tempo: a vida.
despertando-se para o verdadeiro tempo.
O tempo sem relógio ou calendário.
O tempo que é apenas um só período
entre dois marcos: o começo e o fim.
O tempo sem horas, tempo sem demoras.
O tempo que não espera, nem desespera.
O tempo que só conta no fim de tudo,
e essa conta só pode ser tarefa alheia.
Na nossa conta, só há um tempo: a vida.
4 de fevereiro de 2016
hoje não há medo
hoje não há medo.
a chuva e o vento
que fustigam a janela
são apenas natureza.
a luz que se apaga
faz descer o escuro,
mas nada muda,
só a cor que vejo.
debaixo da cama,
atrás da porta,
e dentro dos armários,
não há senão objetos,
inanimados de dia,
inanimados de noite.
o frio que sinto
é apenas frio,
que se extingue
com um agasalho.
hoje tudo é simples,
esta razão é senhora,
o tempo é agora,
o lugar é só este.
a chuva e o vento
que fustigam a janela
são apenas natureza.
a luz que se apaga
faz descer o escuro,
mas nada muda,
só a cor que vejo.
debaixo da cama,
atrás da porta,
e dentro dos armários,
não há senão objetos,
inanimados de dia,
inanimados de noite.
o frio que sinto
é apenas frio,
que se extingue
com um agasalho.
hoje tudo é simples,
esta razão é senhora,
o tempo é agora,
o lugar é só este.
26 de janeiro de 2016
sol de inverno
Foste o sol que chegou
numa tarde fria de inverno.
Ceguei-me com o teu brilho
e senti-me subitamente aquecer.
Como se iludem os corações
velhos e fustigados pelo frio...
Ignoram o peso dos anos,
embarcam na fantasia,
ingenuidade de criança,
e vêem o que querem ver.
Quando a realidade caiu,
trouxe o que já se sabia:
sóis presos ao próprio brilho
jamais nos podem aquecer.
numa tarde fria de inverno.
Ceguei-me com o teu brilho
e senti-me subitamente aquecer.
Como se iludem os corações
velhos e fustigados pelo frio...
Ignoram o peso dos anos,
embarcam na fantasia,
ingenuidade de criança,
e vêem o que querem ver.
Quando a realidade caiu,
trouxe o que já se sabia:
sóis presos ao próprio brilho
jamais nos podem aquecer.
25 de janeiro de 2016
caminhar
com ombros pesados,
carregada
de um pouco de tudo,
mas muito mais do nada.
olhos presos no caminho,
secos e envelhecidos,
mas que ainda vivem
e se erguem aos alheios.
a cada troca de olhares,
a esperança que não se habitua,
o desejo de encontrar passos
que se sincronizem aos seus.
a cada encontro,
o reviver do primeiro
conforto natal,
tempo sem fardos
ou almas feridas.
tempo sem tempo.
a cada despedida,
o tempo que regressa
o espelho que se impõe:
este é o teu caminho,
este é o teu fardo.
18 de janeiro de 2016
uma festa esplendorosa
Uma festa esplendorosa,
convidadas letras, todas,
de muitas cores e feitios,
que se moviam aos ritmos
gerados pelas músicas
e por tantas conversas
que enchiam a grande sala.
Houve acenos, risos, sorrisos
e cumprimentos despreocupados,
Houve toques, apertos e abraços.
e movimentos mais ousados.
A festa durou horas e horas
e terminou de madrugada
quando as últimas letras
se puseram de abalada.
Se lá embaixo a festa foi divinal,
vista de cima também não esteve mal.
Em toda aquela alegre movimentação
as letras formaram diferentes palavras
que, arranjadas com alguma imaginação,
compuseram uma divertida redação.
convidadas letras, todas,
de muitas cores e feitios,
que se moviam aos ritmos
gerados pelas músicas
e por tantas conversas
que enchiam a grande sala.
Houve acenos, risos, sorrisos
e cumprimentos despreocupados,
Houve toques, apertos e abraços.
e movimentos mais ousados.
A festa durou horas e horas
e terminou de madrugada
quando as últimas letras
se puseram de abalada.
Se lá embaixo a festa foi divinal,
vista de cima também não esteve mal.
Em toda aquela alegre movimentação
as letras formaram diferentes palavras
que, arranjadas com alguma imaginação,
compuseram uma divertida redação.
15 de janeiro de 2016
ouvir a morte
Ontem ouvi a morte.
Não a vi,
mas reconheci-lhes os passos...
Começaram lentos.
Depois apressaram-se,
correndo, correndo
como receasse
não chegar a tempo
ao seu destino final.
De seguida, abrandaram...
Contei cada um destes
até chegar junto de mim.
Foram sete passos,
sete longos e pesados passos,
em que todo eu me sustive.
A cada passo,
sentia o frio mais próximo de mim...
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
A cada passo,
sentia o medo a apoderar-se de mim...
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Sempre de olhos fechados,
um único pensamento no escuro
enquanto a morte me rondava:
morrer seria deixar de te ver.
Quando a morte se foi
e me abandonou à vida,
um outro medo brotou:
medo de viver sem te ter.
Não a vi,
mas reconheci-lhes os passos...
Começaram lentos.
Depois apressaram-se,
correndo, correndo
como receasse
não chegar a tempo
ao seu destino final.
De seguida, abrandaram...
Contei cada um destes
até chegar junto de mim.
Foram sete passos,
sete longos e pesados passos,
em que todo eu me sustive.
A cada passo,
sentia o frio mais próximo de mim...
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
Frio
A cada passo,
sentia o medo a apoderar-se de mim...
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Medo
Sempre de olhos fechados,
um único pensamento no escuro
enquanto a morte me rondava:
morrer seria deixar de te ver.
Quando a morte se foi
e me abandonou à vida,
um outro medo brotou:
medo de viver sem te ter.
13 de janeiro de 2016
de salto em salto
De salto em salto,
vai de altos a baixos
aquela
que não é de nenhum.
Na subida,
espera.
Finalmente,
encontro morada
acima da multidão!
Na descida,
desespera.
Sorte malvada,
morro estatelada
no meio do chão...
vai de altos a baixos
aquela
que não é de nenhum.
Na subida,
espera.
Finalmente,
encontro morada
acima da multidão!
Na descida,
desespera.
Sorte malvada,
morro estatelada
no meio do chão...
7 de janeiro de 2016
viúva
Sentiu-se viúva e
vestiu essa pele:
roupas de nojo,
e lágrimas no rosto.
- Por que chora a Rita?
- Diz que se sente viúva.
- Mas se nem é casada...
Chora, é por nada...
Disparate! Calúnia
de velha amargurada!
É-se viúva quando
se deixa de ser amada.
vestiu essa pele:
roupas de nojo,
e lágrimas no rosto.
- Por que chora a Rita?
- Diz que se sente viúva.
- Mas se nem é casada...
Chora, é por nada...
Disparate! Calúnia
de velha amargurada!
É-se viúva quando
se deixa de ser amada.
5 de janeiro de 2016
vai-me à rua!
Ai, como chove,
como faz frio
dentro de mim.
Ai, vai à rua,
meu amor!
Traz-me
um pouco de sol
embrulhado no teu sorriso!
Ai, e se não é abuso,
agarra a alegria
da criança que corre
sem pensar,
e a felicidade
dos que folegam de
esperança renovada!
Estes, prende-os
no teu olhar.
Ai, como já anseio
pela tua chegada...
Ai, e todos esses presentes,
como os vou acolher...
Serão a pausa anunciada
neste meu sofrer.
como faz frio
dentro de mim.
Ai, vai à rua,
meu amor!
Traz-me
um pouco de sol
embrulhado no teu sorriso!
Ai, e se não é abuso,
agarra a alegria
da criança que corre
sem pensar,
e a felicidade
dos que folegam de
esperança renovada!
Estes, prende-os
no teu olhar.
Ai, como já anseio
pela tua chegada...
Ai, e todos esses presentes,
como os vou acolher...
Serão a pausa anunciada
neste meu sofrer.
feito de palavras
O amor deles é feito de palavras,
umas, simples; outras, complicadas.
Falam do amor que sentem,
das memórias que lhes fogem
e dos anseios que os estremecem.
E, quando lhes faltam as palavras,
e a conversa ameaça abrandar,
logo um surge com mais palavras
que o outro retribui sem hesitar.
Assim se alimentam os amantes,
quando os corpos estão distantes.
29 de dezembro de 2015
prudências
Detesto esta prudência,
que não é minha.
Já não digo que amo
sem refletir,
sem ponderar,
sem equacionar,
sem apurar a durabilidade
e a verdade do meu sentir.
Não fosse essa prudência,
dir-te-ia que te amo hoje.
Não saberia falar sobre
a verdade
ou o futuro
desse amor.
Falaria do que conheço,
do que ainda é presente
e do que já é passado.
Sei que te amei
em horas.
Sei das memórias
que se agitam em
mim e
me trazem o teu
perfume.
Fosse eu quem um dia fui,
e dir-te-ia tudo isto.
Seria, por certo,
pouco e inconsequente;
mas ficaria dito
– um registo da verdade.
Mudado que sou,
encerro tudo em mim,
escrevo-o
e vivo-o
e vivo-o
num modo tímido,
e apresso-lhe o fim.
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