6 de dezembro de 2007
como se conta a história?
3 de dezembro de 2007
quando o coração ficou pequeno
24 de novembro de 2007
(Paula Rego, a dar de comer)
1 de novembro de 2007
24 de outubro de 2007
escrita automática...
SF
10 de outubro de 2007
2 de outubro de 2007
Ana hoje aparece envolvida numa questão maior. Há unanimidade e todos o afirmam. O Paulo, esse, permanece no seu mundo, mas a Filipa garantiu que lhe viu o agitar cefálico de aprovação. O caso não é para menos, a Teresa desta vez foi demais... como das outras vezes, de tantas outras vezes, mas hoje parece que todos ou quase todos acordaram com os olhos postos no atrevimento daquela personagem. As palavras foram claras e cairiam, bem afiadas em qualquer pessoa que vestisse essa pele, mas não na Teresa. Esta ainda embelezou o espectáculo e verteu lágrimas. Saem-lhe tão facilmente e, ainda assim, têm algum valor, pelo menos para Paulo. Ficou a remoer aquele acenar. Teria sido muito cruel? Patético, como ele só. Ana percebeu-lhe a antecipada hesitação, como a fenda que iniciou a quebra do momento. Filipa iniciou logo de seguida o vacilar. Era o fim, o coração apertou-lhe bem no peito, a testemunhar a sua existência, e Ana preparou-se para adiantar um se calhar cada um é como é.
hf
(Paula Rego)
30 de setembro de 2007
hf
(ft: Sem título, Chema Madoz)
16 de setembro de 2007
rosas. mais uma vez rosas, penso nas rosas
rosa, cravo, já foi, penso em ontem
ontem, estavas cá e o meu coração prendeu-se ao teu
o teu amor não é maior do que o meu: é na medida certa
língua solta, que sabes tu sobre a medida do amor, quero que caias já
e a língua caiu por que o desejo faz-se ordem no teu pensamento
brinco hoje para ocupar o espaço vazio
hf
(fátima mendonça
sem título)
12 de setembro de 2007
Noutro dia, deu consigo a remoer a ideia de que foi numa noite de Abril, em que adormeceu a chamar por quem lhe limpasse a lágrima.
hf
11 de agosto de 2007
Às vezes, quando o escuro da noite cala o impossível, ensaio o gesto num som calado, porque conheço bem as paredes que te separam de mim.
Sei tão bem as letras que ultrapassam o alfabeto e, às vezes, percebo-as a borbulharem na minha boca. Imagino as permutações, os arranjos e as combinações necessárias para que cada letra se toque e todas elas se fundam, dando-lhe voz.
Talvez possa dizer todas as outras palavras e esta se veja obrigada a fazer-se ouvir. Ou, sei lá, se os deuses andarem por perto, sabes já tu de cor tudo o que quero dizer...
hf
6 de agosto de 2007
outras mãos
Uma mão lava a outra, as duas lavam a cara. E a alma? Quantas mãos me lavam a alma?
Se perdesses os dedos das tuas mãos, conhecê-los-ias para as recontruires?
hf
26 de julho de 2007
mãos
s.f.
24 de junho de 2007
poemas ébrios V
pelo seu aspecto tosco
de granito cinzentão...
achou-se sem graça nem nexo
no mundo... achou-se fosco
e deixou morrer a razão...
resta-lhe a sensação!
autómato com o reflexo
de perseguir própria extinção...
deixa-se então pelo chão...
s.f.
17 de junho de 2007
poemas ébrios IV
num excesso de âmago demente,
e duma fúria de não ser outra gente,
sem o cinzento do sangue que me flui
da vontade de ser diferente.
e o coração teima e não anui,
embora pareça condescendente
com a lógica dada pela mente.
cansa-se, e no sentinte que possui
deixa-se doído, decadente.
s.f.
16 de junho de 2007
psudofilosofias agressivas da "treta"
Coloque-se uma praga na procura do certo! Deixai prevalecer a derrota! Que tudo desista, e depois morra... e certo tudo se tornará doravante...
s.f.
7 de junho de 2007
Maria,
Ainda se lembra, Maria? Faça o esforço e veja-me menina e moça, como a que saiu da casa de seus pais. Recorde-me num vestido azul de cetim do mais caro da venda. Não!, nunca usaria chita, Maria! Talvez a criada! Pronto, mas com certeza uma chita fina, a mais cara do Senhor Luís.
Abandone esses pormenores e fixe-se no meu sorriso, ao som do canto melodioso do que já ninguém sabe de cor...
Maria, olhe-me nos olhos e veja como não sei mentir. Ouça o que digo e responda-me à altura. Embale-me no seu regaço. Pregue-me um beijo e veja a alegria da mão que a puxará, para lhe dar a brancura de uma flor.
"Acordar é que eu não queria... "
hf
(Paula Rego: a aliança dos ratos)
26 de maio de 2007
poemas ébrios III
do meu corpo sem se ser.
turpor estúpido, estúpida calma,
estúpido eu, sempre a morrer.
leio os olhos pela palma
num copo que sobe sem descer,
sem perceber que se me espalma
o que devia perceber...
s.f.
24 de maio de 2007
1985 (after Orwell's 1984)
Saiu do seu quarto cinzento, entrou no quarto-de-banho cinzento, tomou um banho de água cinzenta, vestiu-se de cinzento, escovou o cabelo e os dentes, ambos cinzentos, e saiu...para o mundo exterior, também ele cinzento. O solapsismo infiltrava-se-lhe sob a forma de ausência de cores, dado inexplicavelmente elas lhe trazerem alguma emoção. Numa repressão lógica da mesma, ia sobrevivendo todos os dias, sem viver. Era ditador de si próprio, e só a pesada embriaguez a que se sujeitou de noite o fez perceber de tal situação...
Quando no dia seguinte acordou, tal reflexão estava extinta, e tudo recomeçou como no dia anterior.
s.f.
13 de maio de 2007
poemas ébrios II
Tanta luz!
Nebulina que se me herda
Arrasta o corpo que me conduz,
Mata a garrafa que me seduz!
Ah!Parte-a!
Estilhaça-a!
Derrama o liquido sobrante
Sobre a culpa asfixiante!
Mata a ressaca em que me pus!
Ah!Morra!
Erro de merda!
Não me tenho mais pachorra!
Atinjo-me sempre d'alma lerda!
Caralho p'ra isto! Porra!
s.f.
11 de maio de 2007
Estranho. Estranho foi ter respondido. Esperava uma simples repetição da cortesia e obtive mais; possivelmente pela novidade da resposta, deixei um sorriso. Um simples esforço muscular, que tentava dissipar o peso daquela afirmação e me alhear de uma resposta à altura.
Ironia. Ironia foi dizer ele aquilo que só eu sinto.
hf
5 de maio de 2007
poemas ébrios I
insónia de gente
que sente saudade
de alma diferente.
sem jovialidade,
em morte aparente.
controlo a vontade
de amor ardente,
e vivo a saudade...
não sei ir em frente,
e com pouca idade
cresço decrescente.
e morro diferente...
morro de saudade
por amor ardente...
s.f.
1 de maio de 2007
para os que se julgam sozinhos no mundo
um grande obrigado também a hf, pelo estímulo dado.
para os que se julgam sozinhos no mundo:
"Eu não sou eu, somos nós. Existe em mim uma ausência de unidade, como que se várias personagens habitassem o meu corpo e lutassem entre elas pelo protagonismo de se manifestarem como aquele que deveria ser eu. Algumas já existiam de raiz, outras foram aparecendo por força de ocorrências que massacraram a minha estabilidade relativa.
Dizer que sou por natureza simpático e rancoroso é um erro que me imponho a mim próprio. Nunca sou os dois ao mesmo tempo. Vivo-me em situações diferentes, com atitudes diferentes, porque somos diferentes! Nós, a pluralidade na singularidade da personagem que os outros vêem.
A tristeza é, portanto, possivelmente o único sentimento de união que possuo. Sou triste porque o pretendo, ou porque me vejo pretendê-lo. Sou triste porque sim, porque me sinto eu sendo triste, porque assim sou uno, porque sei que sou eu, verdadeiramente.
Procuro o sucesso, mas empurro-me para a queda…apenas porque tenho medo de mudar. E entristeço-me ao saber que desiludo quem me rodeia, por ser sempre alguém que não devo. Por fazer conhecer a quem me ligo a minha natureza poluída e, infelizmente, contagiosa, afectando negativamente quem amo. E isso é imperdoável.
Consequentemente, as culpas vão-se acumulando com a repetição sistemática do erro de procurar a tristeza. E começo a deixar de me suportar ou tolerar.
Talvez para me entristecer…talvez porque sou má pessoa…"
(15/6/2005) s.f.
30 de abril de 2007
mais uma história de coisas
s.f.
25 de abril de 2007
23 de abril de 2007
chapéu cinzento
Sendo assim, deixa-se estar, num turpor mórbido que não imita a morte, mas que no fundo a é. Não há mais chapéu cinzento para ninguém...
sergio f.
17 de abril de 2007
cefaleias
«Agradeço o milagre farmacológico e numa névoa de cores difusas acabo por tragar aquilo de uma só vez com café. Arre! Ainda sabe pior que com água!
Depois espero. Em princípio as preocupações que suscitaram esta cefaleia não desaparecerão assim por artes do mago, mas talvez haja alguma esperança para esta dor difusa que, diga-se de boa verdade, é irritante com’ó caralho (este vernáculo deveria ser também considerado sintoma da patologia – imagine-se qualquer coisa como “o paciente descreverá uma dor referida à extremidade cefálica, com o uso da expressão “irritante com’ó caralho!””).
Ah! E vou ficando mais lúcido, mas as preocupações não desaparecem, o que me faz pensar: até que ponto não seria melhor ter suportado aquela merda de dor física a isto? Existirá alguma coisa masoquista em mim que me faça procurar constantemente remorsos?» - perguntou o revolver, enquanto arrefecia depois do disparo.
«Não sei! Mas pelos vistos mataste-me, imbecil!»
Sérgio F.
9 de abril de 2007
(estava muito bebedo quando escrevi isto)
Sérgio F.
22 de março de 2007
Hoje vi-te num espelho meu...
Vi-me e vi-te e se o abraço fosse espontâneo, agora senti-lo-ias bem forte; e se a lágrima ainda caísse, seca-la-ias; mas se o gesto calasse a tua solidão por um instante, o curto espaço de tempo que até te dares conta da inutilidade (do gesto); não calaria o meu grito, esse que sai já calado e se sabe eterno.
Talvez tu, ainda aconselhado pelo desespero, acredites em gestos mágicos, em ilusões salvadoras, em respostas perfeitas, mas só a ingenuidade te pode fazer crer que seja eu. A ingenuidade… que vais sufocar com o marcar das rugas e que vai persistir muda, roendo em dor latente e solitária, presa a um corpo que aprenderá mais velozmente do que o coração.
Como conheço bem os teus trilhos! E como desejaria que fossem diferentes dos meus… É possível que o sejam e até isso dói, mas o teu presente está tão próximo do que quero que seja passado.
hf
(imagem: Isabelle Faria, auto-retrato, 2003)
21 de fevereiro de 2007
| o prego e o mar
da juventude não se libertaria naquela noite. mas estava agora, com certeza, um passo adiante no seu afastamento dos verdes anos.
disse-lhe ela que merecia ele melhor. não conseguiu concordar. mesmo acenar. um aceno teria bastado para quebrar o silêncio que enchia cortante a sala. até os estranhos em volta pareceram concordar com ela. o tirintar da loiça parou em frente no café, tal era o acordo do mundo em geral. ele emagrecia, na sua mudez. ela falava sem brotar som. conversaram durante horas, calado que se mantinha ele, absorto em ruminações tacanhas.
julgava-se pelo que quis fazer, penalizava-se pelo que devia ter tentado, sem nunca abrir a boca. ela cavalgava pelo pântano do injustificável, para nunca admitir o que ele sabia. ele desaparecia de inanição. ela desapareceu do café, só de solidão.
estava cansado de tanto envelhecer. as dores do crescimento quebravam-lhe o corpo, as lágrimas brotaram finalmente de tanta dor. e foi para casa, afundado como prego em maré vaza.
human behaviour
and human behaviour
be ready to get confused
there’s definitely no logic
to human behaviour
but yet so irresistible
there’s no map
to human behaviour
they’re terribly moody
then all of a sudden turn happy
but, oh, to get involved in the exchange
of human emotions is ever so satisfying
there’s no map
and a compass
wouldn’t help at all
human behaviour
b. gudmundsdottir/n. hooper debut.björk1993
16 de fevereiro de 2007
Novidades
Diz que se esqueceu. Hoje, já não é como ontem. Parece que o relógio fez cair a última folha do velho calendário e agora o vento grita por mudança.
Não se lembra bem, mas era diferente. Engraçado como a distância do tempo pode transformar a memória. Talvez as imagens que reproduz estejam afastadas do real, como naqueles filmes que voltamos a ver anos depois e verificamos a sua falta de brilho.
Talvez não houvesse brilho, mas apetece tanto dizer: que saudade. O despertador dá o pontapé do costume e o hábito desfaz-te no esquecimento.
Prioriridades.
Calendários.
Horários.
Fala-me de ti e dessa tua nova vida.
hf