Detesto esta prudência,
que não é minha.
Já não digo que amo
sem refletir,
sem ponderar,
sem equacionar,
sem apurar a durabilidade
e a verdade do meu sentir.
Não fosse essa prudência,
dir-te-ia que te amo hoje.
Não saberia falar sobre
a verdade
ou o futuro
desse amor.
Falaria do que conheço,
do que ainda é presente
e do que já é passado.
Sei que te amei
em horas.
Sei das memórias
que se agitam em
mim e
me trazem o teu
perfume.
Fosse eu quem um dia fui,
e dir-te-ia tudo isto.
Seria, por certo,
pouco e inconsequente;
mas ficaria dito
– um registo da verdade.
Mudado que sou,
encerro tudo em mim,
escrevo-o
e vivo-o
e vivo-o
num modo tímido,
e apresso-lhe o fim.